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As Questões das Imagens e da Idolatria

Católicos adoram imagens? (Idolatria)

Nós católicos não adoramos imagens. Adorar uma imagem é fazer dela um ídolo (em grego, εἴδωλον, eidolon), algo (objeto ou criatura) que é colocado no lugar de Deus, ou seja, um falso deus, e a Igreja em seus 2.000 anos de história nunca ensinou tal prática. Para nós católicos, as imagens não têm o mesmo significado que tinham para os pagãos, que as consideravam realmente como deuses. Nós não as adoramos e sabemos perfeitamente que são representações, seja de Cristo, seja de alguma criação de Deus.

Deus condena a idolatria. Mas seria lícito para um cristão confeccionar ou possuir imagens?

“O Senhor disse a Moisés: […] Farás dois querubins de ouro; e os farás de ouro batido, nas duas extremidades da tampa, um de um lado e outro de outro, fixando-os de modo a formar uma só peça com as extremidades da tampa. Terão esses querubins suas asas estendidas para o alto, e protegerão com elas a tampa, sobre a qual terão a face inclinada. Colocarás a tampa sobre a arca e porás dentro da arca o testemunho que eu te der. Ali virei ter contigo, e é de cima da tampa, do meio dos querubins que estão sobre a arca da aliança, que te darei todas as minhas ordens para os israelitas.” (Ex 25, 1. 18-22)

“Farás o tabernáculo com dez cortinas de linho fino retorcido de púrpura violeta, púrpura escarlate e de carmesim, sobre as quais alguns querubins serão artisticamente bordados.” (Ex 26, 1)

“Fez dois querubins de ouro, feitos de ouro batido, nas duas extremidades da tampa, um de um lado, outro de outro, de maneira que faziam corpo com as duas extremidades da tampa. Esses querubins, com as faces voltadas um para o outro, tinham as asas estendidas para o alto, e protegiam com elas a tampa para a qual tinham as faces inclinadas. “(Ex 37, 7-9)

Vemos acima que por vontade de Deus, as cortinas do tabernáculo deviam ser bordadas com imagens de anjos e a arca da aliança devia ter duas esculturas de anjos. Segundo a Bíblia o próprio Deus inspirou com seu Espírito o artista Beseleel, dando-lhe habilidade, sabedoria e inteligência:

“O Senhor disse a Moisés: “Eis que chamei por seu nome Beseleel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá. Eu o enchi do espírito divino para lhe dar sabedoria, inteligência e habilidade para toda sorte de obras: invenções, trabalho de ouro, de prata, de bronze, gravuras em pedras de engastes, trabalho em madeira e para executar toda sorte de obras.” (Ex 31, 1-5)

Inclusive, a Bíblia menciona que a arca da aliança é do Senhor dos exércitos, que se senta sobre os querubins:

“O povo mandou, pois, buscar em Silo a arca da aliança do Senhor dos exércitos, que se senta sobre querubins. Os dois filhos de Heli, Ofni e Finéias, acompanhavam a arca da aliança de Deus. Quando a arca do Senhor entrou no acampamento, todo o Israel rompeu num grande clamor, que fez tremer a terra. Os filisteus, ouvindo-o, disseram: Que significa esse grande clamor no acampamento dos hebreus? E souberam que a arca do Senhor tinha chegado ao acampamento. Então tiveram medo e disseram: Deus chegou ao acampamento. Ai de nós! Até agora nunca se viu coisa semelhante!” (I Sm 4, 4-7)

“e pôs-se a caminho com toda a sua gente, indo a Baalé de Judá, para trazer dali a arca de Deus, sobre a qual é invocado o nome, o nome do Senhor dos exércitos, que se assenta sobre os querubins.” (II Sm 6, 2)

“Quando Moisés entrava na tenda de reunião para falar com o Senhor, ouvia a voz que lhe falava de cima do propiciatório colocado sobre a arca do testemunho, entre os dois querubins. E falava com o Senhor.” (Nm 7, 89)

O Templo de Deus

Nas próximas passagens bíblicas, o rei Salomão – o homem mais sábio e inteligente que já existiu segundo as Escrituras (“vou satisfazer o teu desejo; dou-te um coração tão sábio e inteligente, como nunca houve outro igual antes de ti e nem haverá depois de ti.” I Rs 3, 12) – fez inúmeras imagens para o templo de Deus:

“A casa ficou assim inteiramente coberta de ouro, como também toda a superfície do altar que estava diante do santuário. Fez no santuário dois querubins de pau de oliveira, que tinham dez côvados de altura. Cada uma das asas dos querubins tinha cinco côvados, o que fazia dez côvados da extremidade de uma asa à extremidade da outra. O segundo querubim tinha também dez côvados; os dois tinham a mesma forma e as mesmas dimensões. Um e outro tinham dez côvados de altura. Salomão pô-los no fundo do templo, no santuário. Tinham as asas estendidas, de sorte que uma asa do primeiro tocava uma das paredes e uma asa do segundo tocava a outra parede, enquanto as outras duas asas se encontravam no meio do santuário. Revestiu também de ouro os querubins. Mandou esculpir em relevo em todas as paredes da casa, ao redor, no santuário como no templo, querubins, palmas e flores abertas. […] Nos dois batentes de pau de oliveira mandou esculpir querubins, palmas e flores desabrochadas, e cobriu-as de ouro; cobriu de ouro tanto os querubins como as palmas.” (I Rs 6, 22-29 .32)

“Fez também duas bases de bronze, tendo cada uma quatro côvados de comprimento, quatro de largura e três de altura. Eis como eram feitas essas bases: eram formadas de painéis e enquadradas de molduras. Nos painéis enquadrados de molduras, havia leões, bois e querubins, assim como nas travessas igualmente. Por cima e por baixo dos leões e dos bois pendiam grinaldas em forma de festões. Cada base tinha quatro rodas de bronze, com seus eixos de bronze, e nos quatro cantos havia suportes fundidos que sustinham a bacia, os quais estavam por baixo das grinaldas. A abertura para a bacia era no interior dos suportes, e os ultrapassava de um côvado de altura; era cilíndrica e seu diâmetro era de um côvado e meio; e era também ornada de esculturas. Os painéis eram quadrados e não redondos. […] Nas placas dos seus esteios e dos painéis assim como no espaço livre entre estas, esculpiu querubins, leões, palmas e grinaldas circulares.” (I Rs 7, 27-31 .36)

“O rei revestiu de ouro a sala: traves, umbrais, paredes e portas; nas paredes mandou esculpir querubins. Fez também a construção da sala do Santo dos Santos, cujo comprimento, igual à largura do edifício, era de vinte côvados. O valor do ouro fino, com que o recobriu, era de seiscentos talentos. Mesmo os pregos eram de ouro e pesavam cinqüenta siclos. Revestiu igualmente de ouro os aposentos. Para o interior do Santo dos Santos, mandou esculpir dois querubins e os revestiu de ouro. O comprimento de suas asas era de vinte côvados; uma asa do primeiro, de cinco côvados de comprimento, tocava a parede da sala, e outra, de cinco côvados, tocava a asa do segundo querubim. Uma asa do segundo querubim, de cinco côvados de comprimento, tocava a parede da sala, e a outra, de cinco côvados de comprimento, tocava a asa do primeiro. Assim, a envergadura das asas destes querubins era de vinte côvados. Sustentavam-se sobre seus pés, com o rosto voltado para a sala. O rei mandou fazer uma cortina em púrpura violeta, carmesim e linho fino, e nela mandou bordar querubins.” (II Cr 3, 7-14)

A seguir, o profeta Ezequiel nos narra sua visão do templo:

Acima da porta, no interior e no exterior do templo, e por toda a parede em redor, por dentro e por fora, tudo estava coberto de figuras: querubins e palmas, uma palma entre dois querubins. Os querubins tinham duas faces: uma figura humana de um lado, voltada para a palmeira, e uma face de leão voltada para a palmeira, do outro lado, esculpidas em relevo em toda a volta do templo. Desde o piso até acima da porta, havia representações de querubins e palmeiras, assim como na parede do templo. A porta do templo era de ângulos retos. Diante do santuário, havia alguma coisa como um altar de madeira. […] Assim como nas paredes, querubins e palmeiras eram figurados nas portas do templo. Na fachada do vestíbulo no exterior, havia um anteparo de madeira.” (Ez 41, 17-21 .25)

Será que um lugar repleto de imagens por todo lado é do agrado de Deus? Qual foi a reação de nosso Senhor? Repudiou e mandou destruí-las? – como fariam os iconoclastas – ou repudiou e os acusou de idolatria? – como fariam alguns protestantes – Pelo contrário, Deus deixa claro a aprovação, veja o que nos narra as escrituras:

“Quando os sacerdotes saíram do lugar santo, a nuvem encheu o templo do Senhor, de modo tal que os sacerdotes não puderam ali ficar para exercer as funções de seu ministério; porque a glória do Senhor enchia o templo do Senhor.” (I Rs 8, 10-11).

É importante observar que era nesse templo de Deus – mesmo que reconstruído por Zorobabel e ampliado por Herodes, o Grande – que os apóstolos e Jesus iam para orar e ministrar:

Jesus passeava no templo, no pórtico de Salomão.” (Jo 10, 23) 

“Enquanto isso, realizavam-se entre o povo pelas mãos dos apóstolos muitos milagres e prodígios. Reuniam-se eles todos unânimes no pórtico de Salomão” (At 5, 12)

Jesus e os apóstolos frequentavam o templo que era repleto de imagens. Veremos abaixo que a própria Bíblia já nos indica que no tempo de Jesus, o templo também era repleto de imagens esculpidas em suas paredes, assim como era no tempo do rei Salomão (descrito em I Reis e II Cronicas) e no tempo de Zorobabel (descrito pelo profeta Ezequiel). Contudo, o famoso historiador Fávio Josefo (Século I d.C.) em sua obra: A Guerra dos Judeus, colabora com preciosas informações sobre como era o templo no tempo que Jesus e seus apóstolos frequentavam. Observemos os fatos de forma cronológica; Sabemos que Deus escolheu Salomão para iniciar a construção de seu santuário:

“Dentre todos os meus filhos – pois o Senhor me deu muitos – ele escolheu meu filho Salomão, para fazê-lo assentar sobre o trono do reinado do Senhor em Israel. É Salomão, teu filho, disse-me Ele, que construirá Minha casa e Meus átrios, porque Eu o escolhi por filho e ser-lhe-ei um pai. […] Considera, portanto, que o Senhor te escolheu para construir uma casa que será seu santuário. Coragem, e põe-te a trabalhar.” (I Cr 28, 5-6 .10)

Os moldes e características do templo foram prescritos pelo próprio Deus:

“Davi deu a Salomão, seu filho, os planos do pórtico e das construções, salas do tesouro, aposentos superiores, aposentos interiores, assim como os da sala do propiciatório: o plano de tudo que ele tinha no espírito referente ao átrio do templo, e a todas as salas ao redor, para os tesouros do templo e os tesouros das coisas sagradas, para as classes de sacerdotes e levitas, assim como toda a organização do serviço da casa de Deus; o modelo dos utensílios de ouro, com o peso de ouro, para todos os utensílios de cada serviço; o modelo de todos os utensílios de prata, com o peso de prata, para todos os utensílios de cada serviço; […] do altar dos perfumes, em ouro fino, com o peso; o modelo do carro, dos querubins de ouro que estendem suas asas para cobrir a arca da aliança do Senhor. Tudo isso, disse Davi, todos os modelos destas obras, foi o Senhor quem me ensinou por um escrito de sua mão.” (I Cr 28, 11-14; 18-19)

Quando Zorobabel comandou a reconstrução do templo destruído pelos babilônios, a intenção foi preservar as características prescritas pelo próprio Deus, mantendo os mesmos moldes e propriedades tradicionais de sua construção:

“E disse-lhe: Toma estes utensílios; leva-os para o templo de Jerusalém; e que a casa de Deus seja reconstruída sobre os seus alicerces.” (Ed 5, 15) 

“Outrossim, devolveremos os utensílios de ouro e prata da casa de Deus, que Nabucodonosor havia tomado do templo de Jerusalém, e transportado para Babilônia; serão repostos no templo de Jerusalém no mesmo lugar em que estavam, e nós os depositaremos na casa de Deus.” (Ed 6, 5)

“que o rei e Jojada entregavam ao empreiteiro das obras do templo. Este contratava os carpinteiros, os canteiros e os trabalhadores que modelavam o ferro e o bronze, para restaurar e reparar o templo do Senhor. Os empreiteiros fizeram com que os reparos fossem acabados pelos seus cuidados, e restabeleceram o templo em seu primeiro estado e o consolidaram. Terminado o trabalho, devolveram na presença do rei e de Jojada o restante do dinheiro, com o qual fabricaram utensílios para o serviço do templo e para os holocaustos, assim como taças e outros objetos de ouro e prata. Enquanto viveu Jojada, foram regularmente oferecidos os holocaustos no templo do Senhor. […] Sepultaram-no na cidade de Davi, com os reis, pois ele tinha feito o bem em Israel para com o Senhor e seu templo.” (II Cr 24, 12-14 .16)

“Então o Senhor inspirou coragem a Zorobabel, filho de Salatiel, governador de Judá, e ao sumo sacerdote Josué, filho de Josedec, bem como a todo o resto do povo: todos puseram-se a trabalhar na construção da casa do Senhor dos exércitos, seu Deus,” (Ag 1, 14)  

“Todavia, ó Zorobabel, tem ânimo, diz o Senhor. Coragem, Josué, filho de Josedec, sumo sacerdote! Coragem todos vós, habitantes da terra, diz o Senhor. Mãos à obra! Eu estou convosco – oráculo do Senhor dos exércitos. Segundo o pacto que fiz convosco quando saístes do Egito, meu espírito habitará convosco. Não temais. Porque isto diz o Senhor dos exércitos: Ainda um pouco de tempo, e abalarei céu e terra, mares e continentes; sacudirei todas as nações, afluirão riquezas de todos os povos e encherei de minha glória esta casa, diz o Senhor dos exércitos. A prata e o ouro me pertencem – oráculo do Senhor dos exércitos. O esplendor desta casa sobrepujará o da primeira – oráculo do Senhor dos exércitos[…] Prestai toda a atenção no que vai acontecer a partir deste dia, a partir do vigésimo quarto dia do nono mês, dia em que foram lançadas as pedras de fundamento da casa do Senhor. Prestai toda a atenção! Vede se o grão falta ainda nos celeiros, se a vinha, a figueira, a romãzeira e a oliveira continuam improdutivas… porque a partir deste dia derramarei a minha bênção. A palavra do Senhor foi dirigida pela segunda vez a Ageu no vigésimo quarto dia do mês, nestes termos: Vai ter com o governador de Judá, Zorobabel, e dize-lhe: abalarei o céu e a terra, derrubarei o trono de todos os reis, aniquilarei o poder das nações, destruirei os carros e suas equipagens; cavalos e cavaleiros cairão, e matar-se-ão mutuamente a golpes de espada. Naquele dia – oráculo do Senhor – eu te tomarei, ó Zorobabel, filho de Salatiel, meu servo – oráculo do Senhor – e te conservarei como se conserva um sinete. Porque é a ti que escolhi – oráculo do Senhor dos exércitos.” (Ag 2, 4-9; 18-23)

“Por isso, eis o que diz o Senhor: volto novamente para Jerusalém cheio de compaixão; minha casa será nela reedificada – oráculo do Senhor dos exércitos – e o cordel será estendido sobre Jerusalém.” (Zc 1, 16)

“Então ele explicou: Este é o oráculo do Senhor a respeito de Zorobabel: não pelo poder, nem pela violência, mas sim pelo meu Espírito (é que ele cumprirá a sua missão) – oráculo do Senhor. Quem és tu, ó grande monte? Diante de Zorobabel não passas de uma planície! Ele porá a pedra de remate em meio de aclamações: Graças, graças a ela! A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: As mãos de Zorobabel lançaram os fundamentos desta casa; suas mãos levarão a bom termo a sua construção. Assim saberás que fui enviado a vós pelo Senhor dos exércitos.” (Zc 4, 6-9)

“Os anciãos dos judeus puseram-se a construir o templo e fizeram progresso, sustentados pelas profecias de Ageu, o profeta, e de Zacarias, filho de Ado. Prosseguiram a construção, segundo a ordem do Deus de Israel, e segundo a ordem de Ciro, de Dario e de Artaxerxes, rei da Pérsia. Terminou-se o edifício no terceiro dia do mês de Adar no sexto ano do reinado de Dario. Os israelitas, os sacerdotes, os levitas e os demais repatriados celebraram com júbilo a dedicação dessa casa de Deus.” (Ed 6, 14-16)

Se a Bíblia já nos relata que na época de Jesus e dos apóstolos o santuário de Deus reconstruído era repleto de imagens esculpidas em suas paredes, como vimos acima, o historiador Fávio Josefo (Século I d.C.) em sua famosa obra: A Guerra dos Judeus, nos presenteia com mais detalhes sobre o templo (já ampliado por Herodes, o Grande):

“Vamos agora falar do Templo. […] mas para se levar à perfeição uma obra tão prodigiosa, passaram-se séculos inteiros e nisso gastaram-se todos os tesouros sagrados, provenientes da devoção que os povos ali vinham oferecer a Deus, de todas as partes do mundo […] Toda a parte anterior desse pórtico era dourada e tudo que se via no Templo também o era, de sorte que os olhos mal lhe podiam suportar o brilho. A parte interior do templo estava dividida em duas: dessas duas, a primeira, elevava-se até o teto; sua altura era de noventa côvados, o comprimento, de cinquenta e a largura de vinte. A porta do interior estava coberta de lâminas de ouro, como já disse, e os lados do muro que acompanhavam eram dourados. Viam-se no alto ramos de videira do tamanho de um homem, de onde pendiam cachos de uva; tudo isso era de ouro. A outra parte da divisão do Templo, a mais interior, era mais baixa. Suas portas, que eram de ouro, tinham cinquenta côvados de altura e dezesseis de largura. Havia em frente um tapete babilônio, do mesmo tamanho, onde o azul, a púrpura, o escarlate e o linho estavam dispostos com tanta arte que causavam grande admiração[…] Toda a ordem do céu estava também representada nesse soberbo tapete, com exceção dos sinais.” (Flavio Josefo, A Guerra dos Judeus – capítulo 14 – 394, Século I d.C.)

Nada havia na face exterior do templo, que não arrebatasse os olhos de admiração e não enchesse a alma de espanto. Estava todo recoberto de lâminas de ouro, tão espessas, que quando despontava o dia, ficava-se tão arrebatado pela sua beleza como pelos dourados raios do sol. Quanto aos outros lados, onde não havia ouro, as pedras eram tão brancas, que aquela soberba massa parecia, de longe, aos estrangeiros que ainda não as tinham visto, um monte coberto de neve. (Flavio Josefo, A Guerra dos Judeus – capítulo 14 – 395, Século I d.C.)

A maravilha e grandeza do templo chegou a impressionar até os apóstolos de Jesus:

“Ao sair do templo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e fizeram-no apreciar as construções.” (Mt 24, 1)

“Saindo Jesus do templo, disse-lhe um dos seus discípulos: Mestre, olha que pedras e que construções!” (Mc 13, 1) 

Logo em seguida, Jesus lhes revela como prefiguração a destruição do templo (Conforme ocorreu em 70 d.C., quando os Romanos, sob comando do general Tito, tomaram Jerusalém):

“Jesus, porém, respondeu-lhes: Vedes todos estes edifícios? Em verdade vos declaro: não ficará aqui pedra sobre pedra; tudo será destruído.” (Mt 24, 2)

“Jesus replicou-lhe: Vês este grande edifício? Não se deixará pedra sobre pedra que não seja demolida.” (Mc 13, 2)

“Aproximando-se ainda mais, Jesus contemplou Jerusalém e chorou sobre ela, dizendo: Oh! Se também tu, ao menos neste dia que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz!… Mas não, isso está oculto aos teus olhos. Virão sobre ti dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados; destruir-te-ão a ti e a teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo em que foste visitada.” (Lc 19, 41-44)

“Como lhe chamassem a atenção para a construção do templo feito de belas pedras e recamado de ricos donativos, Jesus disse: Dias virão em que destas coisas que vedes não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído.” (Lc 21, 5-6) 

Como já observado, era nesse templo de Deus que os apóstolos e Jesus iam para orar e ministrar. Templo repleto de figuras por todos os lados: onde quase tudo que se via nele era de ouro; que arrebatava os olhos de admiração; que enchia a alma de espanto; cujos moldes foram prescritos pelo próprio Deus; templo construído e reconstruído por pessoas escolhidas e designadas pelo próprio Senhor; ampliado por Herodes Magno; santuário que impressionou o historiador Flavio Josefo; que impressionou os apóstolos de Jesus; e tão bem descrito pelo profeta Ezequiel, onde ele nos narra sua visão do templo (Quando reconstruído por Zorobabel, após o exílio do povo Judeu na Babilônia):

Acima da porta, no interior e no exterior do templo, e por toda a parede em redor, por dentro e por fora, tudo estava coberto de figuras: querubins e palmas, uma palma entre dois querubins. Os querubins tinham duas faces: uma figura humana de um lado, voltada para a palmeira, e uma face de leão voltada para a palmeira, do outro lado, esculpidas em relevo em toda a volta do templo. Desde o piso até acima da porta, havia representações de querubins e palmeiras, assim como na parede do templo. A porta do templo era de ângulos retos. Diante do santuário, havia alguma coisa como um altar de madeira. […] Assim como nas paredes, querubins e palmeiras eram figurados nas portas do templo. Na fachada do vestíbulo no exterior, havia um anteparo de madeira.” (Ez 41, 17-21 .25)

Era nesse templo banhado em ouro, coberto de figuras esculpidas em relevo por dentro e por fora, que Jesus ensinava:

“Jesus respondeu-lhe: Falei publicamente ao mundo. Ensinei na sinagoga e no templo, onde se reúnem os judeus, e nada falei às ocultas.” (Jo 18, 20)

Observemos o zelo que Jesus tinha pelo templo, o qual chamava de casa de Deus:

“Encontrou no templo os negociantes de bois, ovelhas e pombas, e mesas dos trocadores de moedas. Fez ele um chicote de cordas, expulsou todos do templo, como também as ovelhas e os bois, espalhou pelo chão o dinheiro dos trocadores e derrubou as mesas. Disse aos que vendiam as pombas: Tirai isto daqui e não façais da casa de meu Pai uma casa de negociantes. Lembraram-se então os seus discípulos do que está escrito: O zelo da tua casa me consome (Sl 68, 10).” (Jo 2, 14-17)

“Em seguida, entrou no templo e começou a expulsar os mercadores. Disse ele: Está escrito: A minha casa é casa de oração! Mas vós a fizestes um covil de ladrões (Is 56, 7; Jr 7, 11). Todos os dias ensinava no templo. Os príncipes dos sacerdotes, porém, os escribas e os chefes do povo procuravam tirar-lhe a vida. Mas não sabiam como realizá-lo, porque todo o povo ficava suspenso de admiração, quando o ouvia falar.” (Lc 19, 45-48)

“Jesus entrou no templo e expulsou dali todos aqueles que se entregavam ao comércio. Derrubou as mesas dos cambistas e os bancos dos negociantes de pombas, e disse-lhes: Está escrito: Minha casa é uma casa de oração (Is 56, 7), mas vós fizestes dela um covil de ladrões (Jr 7, 11)! Os cegos e os coxos vieram a ele no templo e ele os curou, com grande indignação dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas que assistiam a seus milagres e ouviam os meninos gritar no templo: Hosana ao filho de Davi!” (Mt 21, 12-15)

“Jesus entrou em Jerusalém e dirigiu-se ao templo. Aí lançou os olhos para tudo o que o cercava. Depois, como já fosse tarde, voltou para Betânia com os Doze. […] Chegaram a Jerusalém e Jesus entrou no templo. E começou a expulsar os que no templo vendiam e compravam; derrubou as mesas dos trocadores de moedas e as cadeiras dos que vendiam pombas. Não consentia que ninguém transportasse algum objeto pelo templo. E ensinava-lhes nestes termos: ‘Não está porventura escrito: A minha casa chamar-se-á casa de oração para todas as nações (Is 56, 7)? Mas vós fizestes dela um covil de ladrões (Jr 7,11)’. Os príncipes dos sacerdotes e os escribas ouviram-no e procuravam um modo de o matar. Temiam-no, porque todo o povo se admirava da sua doutrina.” (Mc 11, 11. 15-18)

Como vimos, além de impedir os vendilhões de profanar a casa de Deus, Jesus orava, ensinava todos os dias e fazia milagres no templo, inclusive, logo após expulsar os vendilhões, questionado pelos judeus, Jesus usou o templo como metáfora de seu próprio corpo:

“Perguntaram-lhe os judeus: Que sinal nos apresentas tu, para procederes deste modo? Respondeu-lhes Jesus: Destruí vós este templo, e eu o reerguerei em três dias. Os judeus replicaram: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu hás de levantá-lo em três dias?! Mas ele falava do templo do seu corpo. Depois que ressurgiu dos mortos, os seus discípulos lembraram-se destas palavras e creram na Escritura e na palavra de Jesus.” (Jo 2, 18-22)

Esse templo repleto de imagens fez parte na infância, na juventude, na fase adulta e na morte de Nosso Senhor, tanto nos primeiros anos de Cristo na terra, quanto nos últimos. Apresentação do menino Jesus no templo:

“Completados que foram os oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, como lhe tinha chamado o anjo, antes de ser concebido no seio materno. Concluídos os dias da sua purificação segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentar ao Senhor, conforme o que está escrito na lei do Senhor: Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor (Ex 13, 2); e para oferecerem o sacrifício prescrito pela lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos. Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem, justo e piedoso, esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele. Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não morreria sem primeiro ver o Cristo do Senhor. Impelido pelo Espírito Santo, foi ao templo. E tendo os pais apresentado o menino Jesus, para cumprirem a respeito dele os preceitos da lei, tomou-o em seus braços e louvou a Deus nestes termos: Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra.” (Lc 2, 21-29)

Todos os anos, Jesus e seus pais subiam de Nazaré até o templo de Deus em Jerusalém. Em uma dessas viagens, quando Cristo tinha apenas 12 anos, mencionou que estar no templo com os doutores da lei era ocupar-se das coisas de seu Pai, referindo-se às coisas de Deus:

“Seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa. Tendo ele atingido doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa. Acabados os dias da festa, quando voltavam, ficou o menino Jesus em Jerusalém, sem que os seus pais o percebessem. Pensando que ele estivesse com os seus companheiros de comitiva, andaram caminho de um dia e o buscaram entre os parentes e conhecidos. Mas não o encontrando, voltaram a Jerusalém, à procura dele. Três dias depois o acharam no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. Todos os que o ouviam estavam maravilhados da sabedoria de suas respostas. Quando eles o viram, ficaram admirados. E sua mãe disse-lhe: Meu filho, que nos fizeste?! Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição. Respondeu-lhes ele: Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai? Eles, porém, não compreenderam o que ele lhes dissera. Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração. (Lc 2, 41-51)

Até no momento em que Cristo entregou sua alma na cruz, houve uma interação com o templo de Deus, o véu de grande espessura do templo se rasgou de cima abaixo e a partir de então, quando Jesus nos possibilitou a salvação eterna, deixou descoberto o lugar mais sagrado que havia no interior do templo, o recinto que na antiga aliança era chamado de Santo dos Santos (Santíssimo). É interessante observar que até no Santíssimo e no véu que o cobria, Deus mandou colocar imagens de anjos:

“Para o interior do Santo dos Santos, mandou esculpir dois querubins e os revestiu de ouro[…] Assim, a envergadura das asas destes querubins era de vinte côvados. Sustentavam-se sobre seus pés, com o rosto voltado para a sala. O rei mandou fazer uma cortina em púrpura violeta, carmesim e linho fino, e nela mandou bordar querubins.” (II Cr 3, 10. 13-14)

A Bíblia também nos narra que mesmo depois da ressurreição de Cristo, seus apóstolos frequentavam o templo diariamente nos primeiros tempos da Igreja:

“Unidos de coração frequentavam todos os dias o templo. Partiam o pão nas casas e tomavam a comida com alegria e singeleza de coração,” (At 2, 46)

Pedro e João iam subindo ao templo para rezar à hora nona. Nisto levavam um homem que era coxo de nascença e que punham todos os dias à porta do templo, chamada Formosa, para que pedisse esmolas aos que entravam no templo. Quando ele viu que Pedro e João iam entrando no templo, implorou a eles uma esmola. Pedro fitou nele os olhos, como também João, e disse: Olha para nós. Ele os olhou com atenção esperando receber deles alguma coisa. Pedro, porém, disse: Não tenho nem ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda! E tomando-o pela mão direita, levantou-o. Imediatamente os pés e os tornozelos se lhe firmaram. De um salto pôs-se de pé e andava. Entrou com eles no templo, caminhando, saltando e louvando a Deus. Todo o povo o viu andar e louvar a Deus. Reconheceram ser o mesmo coxo que se sentava para mendigar à porta Formosa do templo, e encheram-se de espanto e pasmo pelo que lhe tinha acontecido. Como ele se conservava perto de Pedro e João, uma multidão de curiosos afluiu a eles no pórtico chamado Salomão.” (At 3, 1-11)

“E todos os dias não cessavam de ensinar e de pregar o Evangelho de Jesus Cristo no templo e pelas casas.” (At 5, 42)

Caso não fosse correto frequentar ambientes onde se tem imagens à vista, por que os apóstolos e Jesus não se incomodavam com as imagens ao frequentar o templo diariamente? Em todos esses relatos bíblicos de frequência e atividade dos apóstolos e de Jesus no templo, sempre que o templo repleto de imagens esculpidas em suas paredes é citado, não temos nenhuma ocorrência de repreensão quanto às imagens, nem de Jesus, nem dos apóstolos e nem dos anjos:

“Mas um anjo do Senhor abriu de noite as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, disse-lhes: Ide e apresentai-vos no templo e pregai ao povo as palavras desta vidaObedecendo a essa ordem, eles entraram ao amanhecer, no templo, e puseram-se a ensinar. Enquanto isso, o sumo sacerdote e os seus partidários reuniram-se e convocaram o Grande Conselho e todos os anciãos de Israel, e mandaram trazer os apóstolos do cárcere. (At 5, 19-21)

A Serpente de Bronze

Neste próximo exemplo, Deus quis agir por intermédio de uma imagem, uma serpente de bronze, ordenando que Moisés a fizesse:

“e o Senhor disse a Moisés: “Faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo o que for mordido, olhando para ela, será salvo.” Moisés fez, pois, uma serpente de bronze, e fixou-a sobre um poste. Se alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, conservava a vida.” (Nm 21, 8-9)

Note que Deus não só permitiu o uso da imagem, como também a utiliza para o seu serviço. É importante distinguir bem a diferença entre a idolatria de imagens, com a confecção de imagens, pois é exatamente neste ponto onde muitos interpretam as escrituras por seu próprio juízo e fazem confusão. Enquanto Deus proíbe a adoração de imagens, o próprio Deus ordena a confecção de imagens em diversas narrações bíblicas já citadas acima. A seguir, podemos observar bem a diferença entre usar a serpente de bronze conforme Deus ordenou e adorar a serpente de bronze, caracterizando assim, o pecado da idolatria:

“Destruiu os lugares altos, quebrou as estelas e cortou os ídolos de pau asserás. Despedaçou a serpente de bronze que Moisés tinha feito, porque os israelitas tinham até então queimado incenso diante dela. (Chamavam-na Nehustã).” (II Rs 18, 4)

Fizeram da serpente de bronze um ídolo, um falso deus. Na continuação dos mesmos textos bíblicos, vemos que essa geração idólatra vivia na total desobediência:

“Assim aconteceu porque eles não tinham escutado a voz do Senhor, seu Deus, mas tinham quebrado a sua aliança, recusando-se a ouvir e executar o que ordenara Moisés, servo do Senhor.” (II Rs 18, 12)

Observemos que a serpente de bronze foi a primeira imagem que nos remetia a nosso Senhor Jesus Cristo, conforme escrito no novo testamento:

“Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem, para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna.” (Jo 3, 14-15)

“Efetivamente, quando o cruel furor dos animais os atingiu também, e quando pereceram com a mordedura de sinuosas serpentes, vossa cólera não durou até o fim. Foram por pouco tempo atormentados, para sua correção: eles possuíram um sinal de salvação que lhes lembrava o preceito de vossa lei. E quem se voltava para ele era salvo, não em vista do objeto que olhava, mas por vós, Senhor, que sois o salvador de todos. Com isso mostráveis a vossos inimigos, que sois vós que livrais de todo o mal.” (Sb 16, 5-8)

Após a análise dos textos bíblicos até aqui, ficou claro que Deus não condena o uso de imagens sacras e sim a idolatria, pois o próprio Deus ordenou em várias situações que fossem feitas e utilizadas imagens, e que o próprio Senhor Jesus Cristo e seus apóstolos frequentavam o templo de Deus, que era repleto de imagens, logo, a confecção de imagens na Igreja Católica é bíblico, além de fazer parte do depósito da fé em 2.000 anos de tradição apostólica, como veremos no prosseguir deste estudo.

É lícito ajoelhar-se e beijar algo (objeto ou criatura) que não é Deus?

Josué rasgou suas vestes e prostrou-se com a face por terra até a tarde diante da arca do Senhortanto ele como os anciãos de Israel, e cobriram de pó as suas cabeças.” (Js 7, 6) 

Abraão levantou os olhos e viu três homens de pé diante dele [anjos]. Levantou-se no mesmo instante da entrada de sua tenda, veio-lhes ao encontro e prostrou-se por terra.” (Gn 18, 2)

Moisés saiu ao encontro de seu sogroprostrou-se e beijou-o. Informaram-se mutuamente sobre a sua saúde e entraram na tenda.” (Ex 18, 7)

“Davi, tendo levantado os olhos, viu o anjo do Senhor que estava entre o céu e a terra, com uma espada desembainhada em sua mão, dirigida contra Jerusalém. Então Davi e os anciãos, cobertos de sacos, prostraram-se com o rosto por terra.” (I Cr 21, 16)

“Acordou o carcereiro e, vendo abertas as portas do cárcere, supôs que os presos haviam fugido. Tirou da espada e queria matar-se. Mas Paulo bradou em alta voz: Não te faças nenhum mal, pois estamos todos aqui. Então o carcereiro pediu luz, entrou e lançou-se trêmulo aos pés de Paulo e Silas.” (At 16, 27-29)

Assim como é um erro acusar Josué (que se prostrou perante a arca da aliança), Abraão, Moisés, Davi e os anciãos de idólatras por terem se prostrado diante de algo que não é Deus, também é um erro acusar de idolatria alguém que se prostra diante de uma imagem sacra que sabe perfeitamente que são representações, seja de Cristo, seja de alguma criação de Deus. O ato de ajoelhar-se diante de algo sem a intenção de adoração, é uma forma de demonstrar respeito, humildade, reverência, veneração e admiração, lembremos que adorar uma imagem é fazer dela um ídolo, algo (objeto ou criatura) que é colocado no lugar de Deus, ou seja, um falso deus, e a Igreja nunca ensinou tal prática. Para nós católicos, as imagens não têm o mesmo significado que tinham para os pagãos, que as consideravam realmente como deuses.

“O culto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as considera em seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é imagem.” (Santo Tomás de Aquino, S. Th. II-II, 81,3, ad 3, Século XIII).

Por exemplo, prostrar-se diante de uma imagem de Nossa Senhora, é na realidade prostrar-se diante da própria Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, e quem não prestaria semelhante reverência diante da única pessoa que carregou o próprio Deus em seu ventre materno? A mesma reverência nós prestamos diante de imagens dos anjos e daqueles que foram grandes exemplos de fiéis seguidores de Cristo na terra, os santos, ambos dignos de nossa mais sincera veneração, admiração e respeito. Nas Sagradas Escrituras encontramos diversas outras passagens com reverência semelhante, vejamos algumas:

“Quando Davi chegou perto de Ornã, este o viu; saiu da eira e se prostrou diante de Davi, com o rosto contra a terra.” (I Cr 21, 21)

“E ele [Jacó], passando adiante, prostrou-se até a terra sete vezes antes de se aproximar do seu irmão. Mas Esaú correu-lhe ao encontro e beijou-o; ele atirou-se ao seu pescoço e beijou-o; e puseram-se a chorar. Levantando os olhos, Esaú viu as mulheres e as crianças: ‘Quem são estes que tens contigo?’, perguntou ele. ‘São, respondeu Jacó, os filhos que aprouve a Deus dar ao teu servo.’ Aproximaram-se então as servas com seus filhos e prostraram-se. Lia com seus filhos adiantaram-se por sua vez e prostraram-se, e, enfim, José e Raquel, que se prostraram também.” (Gn 33, 3-7)

“e me prostro voltado para o teu sagrado templo. […] ” (Sl 138 [137], 2)

Observação: Lembremos que o templo citado na ultima passagem, como já visto, era repleto de imagens por dentro e por fora, e que os moldes e características do templo foram prescritos pelo próprio Deus. Continuando:

[…] Enquanto Manué e sua mulher olhavam subir para o céu a chama do sacrifício que estava sobre o altar, viu que o anjo do Senhor subia na chama. À vista disso, Manué e sua mulher caíram com o rosto por terra.” (Jz 13, 19-20)

“Então ela veio e lançou-se aos pés de Eliseu, prostrando-se por terra. Em seguida tomou o filho e saiu.” (II Rs 4, 37)

“Então o Senhor abriu os olhos de Balaão, e ele viu o anjo do Senhor que estava no caminho com a espada desembainhada na mão. Inclinou-se e prostrou-se com a face por terra.” (Nm 22, 31)

“Quando Abigail avistou Davi, desceu prontamente do jumento e prostrou-se com o rosto por terra diante dele.” (I Sm 25, 23) 

“Depois disse Davi a toda a assembléia: Bendizei ao Senhor, nosso Deus. E toda a assembléia bendisse ao Senhor, o Deus de seus pais, inclinando-se e prostrando-se diante do Senhor e diante do rei.” (I Cr 29, 20)

Perceba que esta ultima passagem nos mostra dois atos parecidos, porém com sentidos e razões diferentes: eles se prostram a Deus, para adorá-lo, mas também ao Rei, para reverenciá-lo. Deus em momento algum se enfureceu com aquilo e não os repreendeu. É oportuno observar que, na Bíblia, quando o ato de prostrar-se é recusado, é identificado com clareza nos textos bíblicos que o problema não está em se prostrar, mas em se prostrar para adorar:

“Prostrei-me aos seus pés para adorá-lo, mas ele me diz: Não faças isso! Eu sou um servo, como tu e teus irmãos, possuidores do testemunho de Jesus. Adora a Deus. Porque o espírito profético não é outro que o testemunho de Jesus.” (Ap 19, 10)

Vemos que o anjo percebeu a intenção de João, por isso o repreendeu para que ali não houvesse um ato indevido de adoração, que cabe somente a Deus. A seguir, vemos uma situação semelhante:

“Quando Pedro estava para entrar, Cornélio saiu a recebê-lo e prostrou-se aos seus pés para adorá-lo. Pedro, porém, o ergueu, dizendo: Levanta-te! Também eu sou um homem!” (At 10, 25-26)

Conforme bem especificado no texto, a prostração de Cornélio não foi uma simples reverência, mas tinha a clara intenção de adoração.

Concluindo a questão, é lícito ajoelhar-se e beijar algo (objeto ou criatura) que não é Deus, quando não há a intenção de adoração no coração daquele que o faz, ou seja, quando o receptor do ato não é colocado no lugar de Deus, como um ídolo, um falso deus, por isso a Igreja não repreende quando tal reverência é realizada à imagem sacra, ao sacerdote, às relíquias dos santos, ao altar, etc. A Igreja nos ensina a realizar tal ato com a intenção de veneração, respeito, humildade, reverência, admiração e não adoração.

É possível Deus agir (proteger, curar, etc) por intermédio das imagens?

Além do episódio já narrado acima sobre a Serpente de Bronze, onde por vontade de Deus, todos picados por víboras ficavam curados ao contemplar uma imagem feita por Moisés (Nm 21, 8-9). Temos outros exemplos nas Escrituras onde Deus utiliza-se de objetos para agir: Como quando através dos ossos de Eliseu, Deus ressuscitou um morto:

“Eliseu morreu e foi sepultado. Guerrilheiros moabitas faziam cada ano incursões na terra. Ora, aconteceu que um grupo de pessoas, estando a enterrar um homem, viu uma turma desses guerrilheiros e jogou o cadáver no túmulo de Eliseu. O morto, ao tocar os ossos de Eliseu, voltou à vida e pôs-se de pé.” (II Reis 13, 20-21)

Através dos lenços de Paulo, Deus fazia milagres extraordinários e expulsava espíritos malignos:

“Deus fazia milagres extra­or­dinários por intermédio de Paulo, de modo que lenços e outros panos que tinham tocado o seu corpo eram levados aos enfermos; e afastavam-se deles as doenças e retiravam-se os espíritos malignos.” (At 19, 11-12)

Ao tocar o manto de Jesus uma mulher foi curada:

“Ora, havia ali uma mulher que já por doze anos padecia de um fluxo de sangue. Sofrera muito nas mãos de vários médicos, gastando tudo o que possuía, sem achar nenhum alívio; pelo contrário, piorava cada vez mais. Tendo ela ouvido falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou-lhe no manto. Dizia ela consigo: “Se tocar, ainda que seja na orla do seu manto, estarei curada”. Ora, no mesmo instante se lhe estancou a fonte de sangue, e ela teve a sensação de estar curada. Jesus percebeu imediatamente que saíra dele uma força e, voltando-se para o povo, perguntou: “Quem tocou minhas vestes?”. Responderam-lhe os seus discípulos: “Vês que a multidão te comprime e perguntas: Quem me tocou?”. E ele olhava em derredor para ver quem o fizera. Ora, a mulher, atemorizada e trêmula, sabendo o que nela se tinha passado, veio lançar-se a seus pés e contou-lhe toda a verdade. Mas ele lhe disse: “Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e sê curada do teu mal” (Mc 5, 25-34)

Além dos ossos de Eliseu, do manto de Jesus, dos lenços e outro panos de Paulo que foram utilizados por Deus como instrumento de ação, foi da vontade do Senhor utilizar-se até da sombra de Pedro:

“Enquanto isso, realizavam-se entre o povo pelas mãos dos apóstolos muitos milagres e prodígios. Reuniam-se eles todos, unânimes, no pórtico de Salomão. Dos outros ninguém ousava juntar-se a eles, mas o povo lhes tributava grandes louvores. Cada vez mais aumentava a multidão dos homens e mulheres que acreditavam no Senhor. De maneira que traziam os doentes para as ruas e punham-nos em leitos e macas, a fim de que, quando Pedro passasse, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles. Também das cidades vizinhas de Jerusalém afluía muita gente, trazendo os enfermos e os atormentados por espíritos imundos, e todos eles eram curados.” (Atos 19, 12-16)

Concluímos então que é possível Deus agir por intermédio de objetos, pois observando as Sagradas Escrituras, vimos registros de Deus utilizando para seu serviço, além da imagem de bronze, tecidos, ossos de um cadáver e até a sombra de um apóstolo para realização de prodígios. Veremos no prosseguir deste estudo que esse tipo de ocorrência não cessou com a morte dos apóstolos.

Os primeiros cristãos mártires dos primeiros séculos, que eram perseguidos e mortos pelo império romano, também por não adorarem falsos deuses, eram adeptos de imagens sacras?

As Catacumbas de Roma

Sabe-se que na Igreja nascente, desde os primeiros séculos, os cristãos sempre fizeram uso de imagens sacras, trata-se de ciência, fatos históricos comprovados através da arqueologia, como veremos a seguir.

No século I, os primeiros cristãos viviam em uma sociedade de maioria pagã e hostil ao cristianismo, os católicos eram perseguidos, suspeitos e acusados ​​falsamente dos piores crimes, torturados, presos, mantidos à distância da sociedade, sentenciados ao exílio ou condenados à morte. Os cristãos de Roma não tinham cemitérios próprios. Se eles possuíam terras, enterravam seus parentes lá, caso contrário, recorriam à cemitérios públicos onde também eram enterrados pagãos. Foi assim que São Pedro apóstolo, mártir, foi sepultado na grande necrópole pública, a “cidade dos mortos”, hoje a colina do Vaticano, da mesma forma, São Paulo foi enterrado em uma necrópole ao longo da Via Ostiense. Confira no vídeo a seguir:

Com o passar dos anos, cada vez mais os cristãos sepultavam seus mortos em subsolos de propriedades particulares de famílias recém-convertidas, essas áreas aumentaram drasticamente, e assim, dezenas de grandes catacumbas foram fundadas em Roma. Sabe-se que as catacumbas abrigaram as primeiras manifestações artísticas da fé católica, os primeiros cristãos expressavam sua fé com imagens pintadas nas paredes e esculpidas em lajes de mármore que selavam os túmulos. A seguir vemos as “Catacumbas de São Marcelino e São Pedro, o exorcista“:

Dentre as maiores e mais importantes catacumbas de Roma, na Via Ápia, estão as “Catacumbas de São Calisto“. Criou-se um complexo cemitério que ocupa uma área de noventa acres, com uma rede de galerias de cerca de vinte quilômetros de extensão, em quatro níveis, com mais de vinte metros de profundidade. Ali foram enterrados milhares de cristãos, dezenas de mártires e dezesseis papas. Assista o vídeo de quando o padre Reginaldo Manzotti esteve no local:

Como vimos, os cristãos perseguidos e mortos pelo império romano nos primeiros séculos, eram adeptos de imagens sacras, assim, evangelizavam os humildes, os simples, as crianças, tornavam as paredes das catacumbas a Bíblia dos iletrados, exerciam função pedagógica de grande alcance e certamente incentivavam o uso das imagens também como forma de avivar a fé.

Nas catacumbas, as imagens que se repetem com mais frequência são: a de Nosso Senhor Jesus Cristo; a de Nossa Senhora; de cenas bíblicas do antigo e do novo testamento; de imagens que remetem aos sacramentos; do crucifixo; e do cristograma, além de outros símbolos cristãos. As catacumbas foram o templo dos primeiros mártires, que chancelaram com o próprio sangue a fidelidade ao Cristo, durante as perseguições, as catacumbas serviam como lugar de refúgio para celebração da Santa Missa.

As catacumbas foram definidas pelos historiadores como “os grandes arquivos” dos primeiros séculos da Igreja, relíquias milenares foram encontradas nesses corredores, mas ainda hoje há muito a ser descoberto em seus extensos labirintos. Recentemente, a sofisticada tecnologia a laser dos arqueólogos e restauradores de arte, tornaram possível a realização de um trabalho especializado nunca executado em catacumbas, descobriram pinturas antigas que estavam encobertas, em um ramal das “Catacumbas de Santa Tecla” que se localizava do lado de fora das muralhas da Roma antiga. São imagens dos rostos dos apóstolos, certamente os retratos já conhecidos foram baseados nestes:

Salus Populi Romani

Segundo a tradição da Igreja, quando a mãe de Nosso Senhor se mudou para a casa do apóstolo João evangelista, levou consigo seus pertences, dentre os quais uma mesa feita pelo próprio Jesus na marcenaria de São José, e foi esta mesa que Lucas evangelista (padroeiro dos médicos e pintores) utilizou para pintar sobre ela a primeira imagem de Nossa Senhora: Salus Populi Romani, século I.

Sabe-se que quando São Lucas escreveu seu Evangelho, fez uma pesquisa e entrevistou os que estiveram mais próximos de Cristo: seus apóstolos e sua mãe. Somente no Evangelho de Lucas encontramos afirmações pessoais de Maria, como:

“Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2, 19)

“E Maria disse: ‘Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isso, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. […] Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa.” (Lc 1, 46-49 .56) 

Segundo a tradição, a própria Nossa Senhora abençoou a pintura, que ganhou várias atribuições de milagres por intercessão durante os primeiros séculos da Igreja. No século IV a imagem foi ameaçada por Juliano o Apóstata, que ordenou a destruição do ícone, mas a imagem resistiu a golpes de martelo. Este fato milagroso atraiu multidões de peregrinos de todo o Oriente. Ainda no século IV, o ícone foi trazido à Roma por Santa Helena, e o Papa Libério respondendo a uma visão da Virgem Maria que teve em um sonho, providenciou ali a construção de uma Igreja, que no século V por desejo do Papa Sisto III foi transformada na Basílica de Santa Maria Maior.

O nome da imagem “Salus Populi Romani” deriva da tradição de levá-la em procissão pelas ruas de Roma para esconjurar perigos e desgraças, ou para por fim a eles, por exemplo no século VI, quando em 590 Roma era atingida pela peste luesinguinaria, o então pontífice São Gregório Magno fez levar em procissão o ícone, e a epidemia cessou.

As atuais e sofisticadas tecnologias de restauração artística do Museu do Vaticano, tornaram possível a realização de um trabalho especializado nunca executado, que permitiu recuperar a beleza original e a realidade histórica do ícone Salus Populi Romani, obscurecida ao longo dos séculos por repinturas e efeitos do uso devocional. Assim, o renomado ícone mariano retornou à sua antiga glória, confira:

Concluímos então que em todos os séculos da Igreja, de forma ininterrupta, as imagens sacras sempre foram bem vistas e devidamente utilizadas pelos fiéis, inclusive pelos mártires nos primeiros séculos, que preferiam a morte do que negar a Cristo.

Quando começaram os protestos sobre o uso de imagens e por quê?

Ouça a seguir um áudio do Prof. Felipe Aquino sobre o surgimento da heresia iconoclastia:

Por que os protestantes da modernidade também acusam a Igreja Católica de adorar imagens?

Como explicado no áudio acima, houve protestos sobre o uso de imagens sacras já no século VIII, por influência islâmica e judaica, então, muito antes do surgimento do protestantismo de Martinho Lutero, João Calvino, Ulrico Zwínglio, etc., a Igreja no Concílio de Nicéia II (787) já havia abordado primeiros questionamentos e heresias sobre a questão dos ícones, que cessaram no século IX com a reafirmação do culto às imagens, isto foi cerca de 750 anos antes da Reforma Protestante. Contudo, é interessante observar que parte dos primeiros protestantes, século XVI, não acusavam a Igreja Católica quanto às imagens, eles rejeitaram os iconoclastas e consideravam as imagens edificantes e muito úteis:

“Tenho como algo deixado à livre escolha as imagens, os sinos, as vestes litúrgicas… e coisas semelhantes. Quem não os quer, deixe-os de lado, embora as imagens inspiradas pela Escritura e por histórias edificantes me pareçam muito úteis… Nada tenho em comum com os iconoclastas” (Martinho Lutero, Da Ceia de Cristo, 1528).

O costume de segurar um crucifixo diante de uma pessoa que esteja morrendo tem mantido muitos na comunidade cristã e permitiu-lhes morrer com uma fé confiante no Cristo crucificado. (Martinho Lutero, Sermão sobre João, Capítulos 1-4, 1539; LW, Vol. XXII, 147)

“De acordo com a Lei de Moisés, nenhuma imagem é proibida, a não ser aquela imagem que é adorada no lugar de Deus […] Aonde elas não são adoradas, as imagens podem ser projetadas e construídas. […] Ninguém é obrigado a quebrar as imagens ou usar de violência contra elas, nem mesmo as de Deus.

Imagens usadas para memorial e testemunho, como crucifixos e imagens dos santos, devem ser toleradas, e não apenas toleradas, mas pelo amor à memória e ao testemunho que estas imagens representam, elas devem ser respeitadas e honradas.

Agora, não queremos nada além de poder carregar crucifixos ou imagens de santos como testemunho, para lembrança, como símbolos, pinturas. Nós colocaremos imagens nas paredes por amor à lembrança e para um melhor aprendizado… Para ser claro, é melhor colocar imagens nas paredes sobre como Deus criou o mundo, sobre como Noé construiu a arca e qualquer outra boa história que possa existir, do que pintar e colocar imagens de coisas mundanas vergonhosas. Sim, seria bom se Deus me deixasse persuadir os ricos e poderosos a permitir que a Bíblia fosse toda pintada nas casas, tanto do lado de dentro como do lado de fora, para que todos pudessem ver. Isto seria uma obra cristã.

Deus deseja que suas obras sejam ouvidas e lidas, especialmente a Paixão de Nosso Senhor. Mas é impossível para mim ouvir e guardar isto em mente sem firmar imagens mentais disto em meu coração. Porque, querendo ou não, quando eu ouço sobre Cristo, uma imagem de um homem pendurado numa cruz se forma em meu coração… Se não é pecado, mas é bom ter a imagem de Cristo em meu coração, então porque seria pecado ter esta imagem diante dos meus olhos?

(Martinho Lutero, †1546 – Fonte: Treasury of Daily Prayer. St. Louis: Concordia Publishing House, 2008. Edição do Kindle, posições 8452-8475)

Sobre os protestantes da modernidade, alguns interpretam erroneamente vários versículos bíblicos que estudaremos a seguir, de tal forma que Deus estaria proibindo os homens de fazer qualquer tipo de imagem, quando na verdade, como já visto até aqui, Deus não condena o uso de imagens sacras e sim a idolatria, pois o próprio Deus ordenou em várias situações que fossem feitas e utilizadas imagens (os querubins da arca da aliança, os tecidos nas paredes do tabernáculo, a serpente de bronze, etc.), vimos também que o próprio Senhor Jesus Cristo e seus apóstolos frequentavam o templo de Deus, que era repleto de imagens por todos os lados, e que a confecção de imagens na Igreja Católica é bíblico, além de fazer parte do depósito da fé em 2.000 anos de tradição apostólica, como evidenciamos nas Catacumbas de Roma dos primeiros cristãos. Esta é a verdade que nos transmite a tradição apostólica e o magistério da Igreja, nos ensinando a legítima interpretação das sagradas escrituras.

A Interpretação Pessoal da Bíblia

Antes de observarmos tais versículos deturpados por alguns protestantes, é oportuno observar que a Bíblia isolada, separada da tradição apostólica, pode ser interpretada de diversas formas diferentes contraditórias à real interpretação, inclusive criando situações infundadas, baseadas em interpretações errôneas das Escrituras, assim como fez o próprio diabo:

“o diabo o levou à Cidade Santa e o colocou sobre o pináculo do Templo e disse-lhe: “Se és Filho de Deus, atira-te para baixo, porque está escrito: Ele dará ordem a seus anjos a teu respeito, e eles te tomarão pelas mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra”. (Mt 4, 5-7)

Logo, pode-se criar “base bíblica” para corromper, enganar, atacar a verdade, proibir o que não se deve proibir, liberar o que não se deve liberar. Ora, é possível deturpar as Escrituras para “transformar” mentira em verdade e vice-versa. É possível usar as Escrituras para arruinar a vida do próximo e até a própria vida:

Isto mesmo faz ele em todas as suas cartas, ao falar nelas desse tema. É verdade que em suas cartas se encontram alguns pontos difíceis de entender, que os ignorantes e vacilantes torcem, como fazem com as demais Escrituras, para a sua própria perdição. Vós, portanto, amados, sabendo-o de antemão, precavei-vos, para não suceder que, levados pelo engano desses ímpios, venhais a cair da vossa firmeza. (II Pe 3, 16-17)

Infelizmente, essa é a realidade que vemos em milhares de grupos separados da Igreja Católica, que se apoiam nas Escrituras, mas que não se entendem entre si, pois não à interpretam da mesma forma: onde uns guardam o sábado, outros o domingo; uns batizam crianças, outros não; uns dizem que já estão salvos antecipadamente, outros não; uns calvinistas, outros arminianos; fora os Testemunhas de Jeová, Mórmons, Neo-Pentecostais, etc. A cada desavença vão fundando novas denominações e se separando cada vez mais, é a reforma da reforma sem fim, e cresce a cada dia o numero de “desigrejados”.

Raciocinemos, não é difícil de entender que dentre numerosos contraditórios, apenas um pode conter a verdade integral, enquanto todos os outros são falsos, ou no máximo contém verdades incompletas. Ora, trata-se de lógica, um de dois contraditórios deve ser falso. Logo, estaria Deus infinitamente perfeito se contradizendo nas Sagradas Escrituras com relação às imagens? É obvio que não, definitivamente, o erro está na interpretação pessoal de quem está examinando a Bíblia por sua própria cabeça e encontrando tal contradição. Sustentados pelo livre exame das escrituras, tiram conclusões pessoais, geralmente desprovidos do conhecimento básico necessário: contexto histórico da época; exegese e hermenêutica, para compreensão coerente da revelação bíblica:

“Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal. Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus.” (II Pe 1, 20-21)

Se a Bíblia foi escrita por inspiração do Espírito Santo, acaso o Deus perfeito deixaria seus textos Sagrados à mercê de tantos erros e interpretações contraditórias sem que pudéssemos saber qual delas é a verdadeira interpretação? É obvio que não, é necessário que exista uma legítima interpretação também inspirada pelo Espírito Santo. Deus, em sua infinita perfeição, nos deixou sua Igreja visível na terra (cf. Mt 16,18), que através da Sucessão Apostólica permanece até os dias de hoje, e para garantir que as Escrituras sejam compreendidas corretamente por nós, Deus guia a autoridade de ensino da Igreja – o Magistério da Igreja – para que esta possa interpretar perfeitamente a Bíblia e a Sagrada Tradição. É a mesma autoridade dos bispos católicos, que reunidos nos primeiros séculos da Igreja, quando ainda não existia nenhuma relação definitiva identificando quais livros eram gnósticos, quais eram apócrifos e quais eram canônicos e infalíveis, aprovaram o cânon da Bíblia (lista dos livros inspirados) que utilizamos até os dias atuais, lista proclamada pela primeira vez no Concílio de Hipona (393 d.C.), e reafirmada em diversos concílios seguintes.

Uma vez Palavra de Deus, sempre Palavra de Deus, pois Jesus é o mesmo, Jesus não muda, Jesus não se reforma. O Verbo de Deus não é subjetivo para ser interpretado relativamente, o Verbo é a verdade objetiva que nos foi revelada e deve ser transmitida (e, portanto, inerrante e perpétua). Pelo poder do Espirito Santo conferido por Cristo (cf. Jo 20,22), os sucessores dos apóstolos ensinam a doutrina e interpretam a Bíblia, certos de que elas não podem ser interpretadas de forma particular.

Também é preciso ser dito que a Igreja inspirada para interpretar legitimamente as Escrituras, aborda o Antigo Testamento considerando o nível cultural, a moral e o contexto histórico da época, tendo como chave hermenêutica última o Evangelho e a revelação em Cristo ressuscitado. Principalmente no Antigo Testamento há páginas de difícil compreensão, que podem surpreender o leitor moderno, deve-se ter consciência de que a leitura destas páginas requer a aquisição de uma adequada competência, através de uma formação que leia os textos em seu contexto histórico-literário e na perspectiva da unidade das Escrituras em Cristo, considerando uma continuidade a respeito do relacionamento entre o Antigo e o Novo Testamento.

Os Versículos que Condenam a Idolatria de Imagens

Tendo feito o alerta quanto ao perigo de se tirar conclusões equivocadas com base em interpretações pessoais das Sagradas Escrituras, vamos aos versículos bíblicos em que, segundo alguns protestantes, Deus estaria proibindo os homens de fazer qualquer tipo de imagem até os dias atuais. Iniciemos pelo livro de Êxodo: Sabemos que na época, o povo de Israel era negativamente influenciado por nações pagãs que os cercavam, politeístas e idólatras, onde cultuava-se os astros, os animais, os reis, etc., nações que não adoravam a Deus, mas que construíam seus próprios deuses falsos, eles acreditavam que uma imagem não era somente um símbolos da divindade, mas sim a própria divindade de maneira real, e o povo judeu que viveu no Egito, uma nação idólatra, era também inclinado à idolatria:

“Vendo que Moisés tardava a descer da montanha, o povo agrupou-se em volta de Aarão e disse-lhe: ‘Vamos: faze-nos um deus que marche à nossa frente, porque esse Moisés, que nos tirou do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu.’ Aarão respondeu-lhes: ‘Tirai os brincos de ouro que estão nas orelhas de vossas mulheres, vossos filhos e vossas filhas e trazei-me’. Tiraram todos os brincos de ouro que tinham nas orelhas e os trouxeram a Aarão, o qual, tomando-os em suas mãos, pôs o ouro em um molde e fez dele um bezerro de metal fundido. Então exclamaram: ‘Eis, ó Israel, o teu deus que te tirou do Egito’. Aarão, vendo isso, construiu um altar diante dele e exclamou: ‘Amanhã haverá uma festa em honra do senhor.’ No dia seguinte, pela manhã, ofereceram holocaustos e sacrifícios pacíficos. O povo assentou-se para comer e beber, e depois levantaram-se para se divertir. O Senhor disse a Moisés: ‘Vai, desce, porque se corrompeu o povo que tiraste do Egito. Desviaram-se depressa do caminho que lhes prescrevi; fizeram para si um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele e ofereceram-lhe sacrifícios, dizendo: Eis, ó Israel, o teu deus que te tirou do Egito.'” (Ex 32, 1-8)

Uma imagem de um falso deus era uma espécie de “clone” da divindade, por exemplo, quando Raquel esposa de Jacó, rouba os ídolos de seu pai Labão, ele se queixa que lhe roubaram seus deuses e não as suas imagens:

“E, se partistes somente porque tinhas saudade da casa paterna, então por que roubaste os meus deuses?” (Gn 31, 30)

Então, o povo de Deus convivia com tal realidade e era advertido frequentemente quanto à idolatria:

Não terás outros deuses diante de minha face. Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto. Eu sou o Senhor, teu Deus, um Deus zeloso que vingo a iniquidade dos pais nos filhos, nos netos e nos bisnetos daqueles que me odeiam,” (Ex 20, 3-5)

Aqui está claro: “Não terás outros deuses”, pelo próprio contexto vemos que a passagem se refere a imagens de falsos deuses, contudo, o contexto histórico também não nos deixa errar, pois como já foi dito, na época o povo judeu estava embebido da idolatria pagã. Os deuses egípcios eram representados em imagens e pinturas, daí vem a proibição necessária para que os judeus não mais fizessem imagens de falsos deuses. Então, logicamente, a intenção aqui foi transmitir a mensagem: “não construam deuses falsos para vocês, pois Eu Sou o Deus Único e Verdadeiro”, e não como interpretam equivocadamente alguns protestantes: “não construam imagem alguma de nada”. Entretanto, mesmo que supostamente tenha sido uma proibição temporária no Antigo Testamento, de se fazer qualquer imagem, proibição específica para o povo judeu daquela época pelo perigo de idolatria que ameaçava Israel, de forma alguma os textos acima estão nos proibindo atualmente de fazer o devido uso de imagens, pois até mesmo os protestantes que deturpam tais versículos das escrituras, utilizam-se de imagens. Se fôssemos levar tais passagens bíblicas ao pé da letra, não poderíamos possuir fotos de entes queridos, pinturas de nenhum tipo, de pessoa ou animal, não poderíamos ter ilustrações em nossos livros e revistas, e não poderíamos assistir vídeos. Nem mesmo os próprios protestantes estariam seguindo tais textos da forma que interpretam. Tanto que a maioria dos protestantes que atacam as imagens católicas, distribuem folhetos, Bíblias e estudos bíblicos ilustrados com imagens, quer para crianças, quer para adultos; fazem uso de imagens. Vejamos outros exemplos onde a idolatria de imagens é citada:

“Sendo já velho [Salomão], elas seduziram o seu coração para seguir outros deuses. E o seu coração já não pertencia sem reservas ao Senhor, seu Deus, como o de Davi, seu pai. Salomão prestou culto a As­tarte, deusa dos sidônios e a Melcom, o abominável ídolo dos amonitas. Fez o mal aos olhos do Senhor, não lhe foi inteiramente fiel como o fora seu pai Davi. Por esse tempo, Salomão edificou no monte, que está ao oriente de Jerusalém, um lugar de culto a Camos, deus de Moab e a Melcom, abominação dos amonitas. […] O Senhor irritou-se contra Salomão, por se ter seu coração desviado do Senhor, Deus de Israel, que lhe aparecera por duas vezes, e lhe tinha proibido expressamente que se unisse a deuses estranhos. Mas não seguira as ordens do Senhor. (I Reis 11, 4-7; 9-10)

“Depois de ter refletido bem, o rei mandou fazer dois bezerros de ouro e disse ao povo: “Basta de peregrinações a Jerusalém! Eis aqui, ó Israel, o teu deus que te tirou do Egito”. Pôs um bezerro em Betel e outro em Dã. Isso foi uma ocasião de pecado, porque o povo ia até Dã para adorar um desses bezerros.” (I Reis 12, 28-30)

“Dividi o reino da casa de Davi para dar-te uma parte. Tu, porém, não seguiste o exemplo de meu servo Davi, que guardava os meus mandamentos e me seguia de todo o seu coração, fazendo sempre o que me era agradável. Fizeste maiores males que todos os que te precederam e chegaste até a fazer para ti deuses estranhos e figuras fundidas, provocando a minha ira; lançaste-me para trás das costas! […] Edificaram para si lugares altos, estelas e ídolos asserás sobre todas as colinas e debaixo de tudo que fosse árvore verde. Até prostitutas (sagradas) houve na terra. Imitaram todas as abominações dos povos que o Senhor tinha expulsado de diante dos israelitas.” (I Rs 14, 8-9; 23-24)

“Porque os deuses dos pagãos, sejam quais forem, não passam de ídolos. Mas foi o Senhor quem criou os céus.” (Sl 96, 5)

“Assim como minha mão se apoderou dos reinos de falsos deuses, cujos ídolos eram mais numerosos que os de Jerusalém e de Samaria, assim como tratei Samaria e seus falsos deuses, não devo tratar também Jerusalém e seus ídolos?” (Is 10, 11)

“Eis que vem a cavalaria, cavaleiros dois a dois. Tomam a palavra e dizem-me: Caiu, caiu Babilônia! Todos os simulacros de seus deuses foram despedaçados contra a terra.” (Is 21, 9)

“Acharás imundo o revestimento de prata de teus ídolos esculpidos e as aplicações de ouro de tuas estátuas fundidas: arrojá-los-ás como imundícies, gritando-lhes: Fora daqui!” (Is 30, 22)

“Revelai o que acontecerá mais tarde, e admitiremos que vós sois deuses. Fazei qualquer coisa, a fim de que nos possamos medir! Mas nada sois, vossa obra é nula, afeiçoar-se a vós é abominável. […] Pois bem, todos eles nada são, suas obras são nulas. Suas estátuas, vazias como o vento.” (Is 41, 23-24 .29)

“Eu sou o Senhor, esse é meu nome, a ninguém cederei minha glória, nem a ídolos minha honra. […] Retrocederão, cheios de vergonha, aqueles que se fiam nos ídolos, e que dizem às estátuas fundidas: “Sois nosso Deus”.” (Is 42, 8. 17)

Os que modelam ídolos nada são, as suas obras preciosas não lhes trazem nenhum proveito! Elas são as suas testemunhas, elas que nada vêem e nada sabem, para a sua própria vergonha. Quem fabrica um deus e funde um ídolo que de nada lhe pode valer? […] Os homens o empregam para queimar; ele mesmo tomou dele para aquecer-se; pôs-lhe fogo e assou pães. Com outra parte fez um deus e o adorou, fabricou um ídolo e se prostrou diante dele. Uma metade ele queimou ao fogo; com ela fez um assado, que come até saciar-se. Aquece-se ao fogo e diz: “Que delícia! Aqueci-me e vi a luz.” Com o resto faz um deus — o seu ídolo —, prostra-se diante dele e o adora e lhe dirige súplicas, dizendo: “Salva-me, porque tu és o meu deus.” (Is 44, 9-10; 15-17)

“Vinde, reuni-vos todos, aproximai-vos, vós que fostes salvos dentre as nações! Nada disso compreendem aqueles que trazem seu ídolo de madeira, aqueles que oram a um deus impotente para salvar.” (Is 45, 20)

“Quanto a ti, eis o que ordenou o Senhor: descendência alguma levará teu nome. Farei desaparecer do templo de teus deuses as imagens esculpidas e as imagens fundidas. Vou preparar teu sepulcro, porque és pouca coisa.” (Naum 1, 14)

“Um ourives, chamado Demétrio, que fazia de prata templozi­nhos de Ártemis, dava muito a ganhar aos artífices. Convocou-os, juntamente com os demais operários do mesmo ramo, e disse: “Conheceis o lucro que nos resulta desta indústria. Ora, estais vendo e ouvindo que não só em Éfeso, mas quase em toda a Ásia, esse Paulo tem persuadido e desencaminhado muita gente, dizendo que não são deuses os ídolos que são feitos por mãos de homens. Daí não somente há perigo de que essa nossa corporação caia em descrédito, como também que o templo da grande Ártemis seja desconsiderado, e até mesmo seja despojada de sua majestade aquela que toda a Ásia e o mundo inteiro adoram.” Essas palavras encheram-nos de ira e puseram-se a gritar: “Viva a Ártemis dos efésios!” […] Então, o escrivão da cidade (veio) para apaziguar a multidão e disse: “Efésios, que homem há que não saiba que a cidade de Éfeso cultua a grande Ártemis, e que a sua estátua caiu dos céus?”” (At 19, 24-28 .35)

“Sabeis que, quando éreis pagãos, vos deixáveis levar, conforme vossas tendências, aos ídolos mudos.” (I Cor 12, 2)

Repare que é recorrente as palavras “ídolo”, “deuses” e “adorar” sempre acompanharem os textos em que as advertências sobre as imagens aparecem, indicando o motivo da proibição. Novamente, tanto nos exemplos citados acima, quanto em diversas outras passagens onde a idolatria de imagens é citada: (Levítico 19, 4; 26, 1 .30), (Juízes 16, 23; 17, 2-5; 18, 23. 30-31), (II Reis 5, 18; 10, 18-28; 17, 16 .41), (II Crônicas 28, 2; 33, 19-22; 34, 3-4 .7), (Salmos 115, 4-8), (Sabedoria 13; 14, 29-31; 15), (Jeremias 8, 19; 10, 3-15; 50, 2 .38; 51, 17-18 .47 .52), (Baruc 6), (Ezequiel 7, 20; 8, 12; 14, 3-8; 23, 14 .49; 30, 13), (Daniel 5, 23; 11, 8), (Oséias 11, 2; 13, 2), (Miquéias 1, 7; 5, 12), (Habacuc 2, 18-19), (Atos dos Apóstolos 15, 20; 17, 29-31;), (I Coríntios 8; 10, 7. 14. 18-21 .28), (I Tessalonicenses 1, 9), (I João 5, 21) quando Deus adverte seu povo, proíbe fazer imagem de ídolo.

Há uma passagem em Atos dos Apóstolos, em especial, onde após a descrição de episódios de idolatria, logo em seguida é descrita a ocasião de quando Deus ordenou que fossem feitas as imagens de anjos para a Arca da Aliança:

“Nossos pais não lhe quiseram obedecer, mas o repeliram. Em seus corações voltaram-se para o Egito, dizendo a Aarão: “Faze-nos deuses, que vão diante de nós, porque quanto a este Moisés, que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu.” Fizeram, naqueles dias, um bezerro de ouro e ofereceram um sacrifício ao ídolo, e se alegravam diante da obra das suas mãos. Mas Deus afastou-se e os abandonou ao culto dos astros do céu, como está escrito no livro dos profetas: “Porventura, casa de Israel, vós me oferecestes vítimas e sacrifícios por quarenta anos no deserto? Aceitastes a tenda de Moloc e a estrela do vosso deus Renfão, figuras que vós fizestes para adorá-las! Assim eu vos deportarei para além da Babilônia” (Am 5,25ss). A Arca da Aliança esteve com os nossos pais no deserto, como Deus ordenou a Moisés que a fizesse conforme o modelo que tinha visto.” (At 7, 39-44)

É oportuno observar que esta ultima passagem nos mostra duas situações distintas envolvendo imagens, enquanto o bezerro de ouro foi feito de ídolo e desagradou a Deus, a Arca da Aliança sabemos que foi prescrita com detalhes pelo próprio Deus. A seguir, em Romanos, Paulo também comenta a idolatria das nações pagãs:

“e do qual temos recebido a graça e o apostolado, a fim de levar, em seu nome, todas as nações pagãs à obediência da fé, […] Mudaram a majestade de Deus incorruptível em representações e figuras de homem corruptível, de aves, quadrúpedes e répteis. Por isso, Deus os entregou aos desejos dos seus corações, à imundície, de modo que desonraram entre si os próprios corpos. Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em vez do Criador, que é bendito pelos séculos. Amém!” (Romanos 1, 5. 23-25)

É preciso abordar as Escrituras como um todo, não se pode fixar os olhos em um único versículo e querer tirar daí uma interpretação definitiva de uma verdade religiosa, muito menos interpretar a Bíblia lendo apenas alguns versículos isolados e ignorar tantos outros sobre um determinado assunto, principalmente quando um versículo contradiz algum outro. Quando há contradição entre versículos, necessariamente há erro de quem os interpretou, pois a Palavra de Deus é inequívoca e não se contradiz.

Por isso, mesmo em algumas passagens isoladas onde não está tão claro que a proibição de Deus é especificamente sobre fazer imagem de ídolo e não sobre a confecção de imagens em si, sabemos que é preciso levar em consideração todas as passagens que falam do mesmo assunto para que a interpretação seja correta. Logo, onde não está explícita a especificidade da proibição, toma-se os outros textos do mesmo assunto como base para conclusão, além do contexto histórico, é claro. Como por exemplo em Deuteronômio:

“Tende cuidado com a vossa vida. No dia em que o Senhor, vosso Deus, vos falou do seio do fogo em Horeb, não vistes figura alguma. Guardai-vos, pois, de fabricar alguma imagem esculpida representando o que quer que seja [*], figura de homem ou de mulher, representação de algum animal que vive na terra ou de um pássaro que voa nos céus, ou de um réptil que se arrasta sobre a terra, ou de um peixe que vive nas águas, debaixo da terra. Quando levantares os olhos para o céu, e vires o sol, a lua, as estrelas e todo o exército dos céus, guarda-te de te prostrar diante deles e de render um culto a esses astros, que o Senhor, teu Deus, deu como partilha a todos os povos que vivem debaixo do céu. […] Tende cuidado para não esquecer a aliança que o Senhor, vosso Deus, fez convosco, e não façais uma imagem esculpida, representando o que quer que seja, como vos proibiu o Senhor, vosso Deus. [*] Porque o Senhor, vosso Deus, é um fogo devorador, um Deus zeloso. Quando tiverdes filhos e netos, e, depois de vos terdes envelhecido nessa terra, vos corromperdes e fabricardes alguma imagem esculpida do que quer que seja, fazendo o que é mau aos olhos de vosso Deus e provocando assim a sua ira. Tomo hoje como testemunha contra vós os céus e a terra, certamente não tardareis a desaparecer da terra cuja possessão ides tomar agora, depois de atravessado o Jordão. Não prolongareis nela os vossos dias, mas sereis exterminados. O Senhor vos espalhará entre todos os povos, e restareis poucos entre as nações, aonde vos conduzir o Senhor. Lá, adorareis deuses feitos pela mão do homem, deuses de madeira e de pedra, que não podem ver, nem ouvir, nem comer, nem sentir.” (Dt 4, 15-19;  23-28)

[*] Analisando várias traduções de Bíblias protestantes (ARA, BKJ, NVI, NVT, NTLH, NBV-P, NAA, etc.), nos versículos “Dt 4, 16” e “Dt 4, 23” encontramos as palavras “ídolo” ou “adorar” dependendo da tradução.

Logo de início, em “Dt 4, 15” vemos que a passagem se refere à imagem do próprio Deus. Antes da proibição que veio logo em seguida, temos sua explicação: “Como Deus não se manifestou em figura que pudesse ser reproduzida, não façam imagens representando Deus.”, logicamente com a revelação em Cristo, esta proibição condicionada cessou, pois Deus se permitiu ser visto em forma humana:

“Filipe lhe diz: ‘Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta!’. Diz-lhe Jesus: ‘Há tanto tempo estou convosco e tu não me conheces, Filipe? Quem me vê, vê o Pai.‘” (Jo 14, 8-9)

“Ele [Jesus] é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda a Criação.” (Col 1, 15)

Como já foi dito, repare que é recorrente as palavras “ídolo”, “deuses” e “adorar” sempre acompanharem os textos em que as advertências sobre as imagens aparecem, indicando o motivo da proibição. Em “Dt 4” vemos a proibição e no mesmo capítulo aparece a palavra “deuses” referindo-se às imagens feitas pelas mãos do homem, seguindo a leitura, também encontramos as referências “outro deus”, “deuses”,  e “ídolo”.

“Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei do Egito, da casa da servidão. Não terás outro deus diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura representando o que quer que seja do que está em cima no céu, ou embaixo na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas para render-lhes culto, porque eu, o Senhor, teu Deus, sou um Deus zeloso. Castigo a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e a quarta geração daqueles que me odeiam,” (Dt 5, 6-9)

“Quando o Senhor, teu Deus, te tiver introduzido na terra que vais possuir, e tiver despojado em teu favor muitas nações […] Não farás pacto algum com elas, nem as tratarás com misericórdia. Não contrairás com elas matrimônios: não darás tua filha a seus filhos, e não tomarás de suas filhas para teu filho, pois elas afastariam do Senhor o teu filho, que serviria a outros deuses; a cólera do Senhor se inflamaria contra ele e não vos destruiria prontamente. Mas eis como procedereis a seu respeito: destruireis seus altares, quebrareis suas estelas, cortareis suas asserás de madeira e queimareis suas imagens de escultura,” (Dt 7, 1-5)

“Queimareis as imagens esculpidas de seus deuses, mas não cobiçareis a prata nem o ouro de que são revestidas, nem delas tomareis nada, para que isso não te seja um laço, pois são uma abominação para o Senhor.” (Dt 7, 25)

“Todos os lugares em que os povos despojados por vós tiverem dado culto aos seus deuses, nos altos montes e colinas, ou debaixo de qualquer árvore frondosa, vós os destruireis completamente. Derrubareis os seus altares, quebrareis suas este­las, cortareis suas asserás, jogareis no fogo os ídolos de seus deuses e apagareis os seus nomes daqueles lugares.” (Dt 12, 2-3)

“Se se levantar no meio de ti um profeta ou um visionário, anuncian­do-te um sinal ou prodígio, e suceder o sinal ou o prodígio que anunciou e te disser: “Vamos, sigamos outros deuses – que te são desconhecidos – e prestemos-lhes culto”, tu não ouvirás as palavras desse profeta ou desse visionário; porque o Senhor, vosso Deus, vos põe à prova para ver se o amais de todo o vosso coração e de toda a vossa alma. […] Se teu irmão, filho de tua mãe, ou teu filho, tua filha, a mulher que repousa no teu seio, ou o amigo a quem amas como a ti mesmo, tentar seduzir-te, dizendo em segredo: “Vamos servir outros deuses” – deuses desconhecidos de ti e de teus pais, ou deuses das nações próximas ou distantes que estão em torno de ti, de uma extremidade da terra a outra – tu não lhe cederás no que te disser, nem o ouvirás. Teu olho não terá compaixão dele, não o pouparás e não ocultarás o seu crime.” (Dt 13, 2-4; 7-9)

“Se se encontrar no meio de ti, em uma das cidades que te dá o Senhor, teu Deus, um homem ou uma mulher que faça o que é mau aos olhos do Senhor, teu Deus, violando sua aliança, indo servir outros deuses ou adorando o sol, a lua, ou o exército dos céus – o que eu não mandei – se te derem aviso disso, logo que o souberes, farás uma investigação minuciosa.” (Dt 17 2-3)

“Maldito o homem que fabrica ídolo de madeira ou metal (abominação para o Senhor, obra de mãos de artesão), e o erige mesmo que seja em lugar escondido! E todo o povo responderá: Amém!” (Dt 27, 15)

“Sabeis de que modo habitamos na terra do Egito, e conheceis nossas peregrinações entre os povos por entre os quais passastes; vistes suas abominações e seus ídolos infames de pau e de pedra, de prata e de ouro, que se acham entre eles. Não haja entre vós homem ou mulher, família ou tribo, cujo coração se desvie hoje do Senhor, nosso Deus, para oferecer culto aos deuses dessas nações; não haja entre vós raiz que produza cicuta e absinto. […] E responderão: “É porque abandonaram a aliança que o Senhor, o Deus de seus pais, tinha feito com eles quando os tirou do Egito, e serviram outros deuses, adorando deuses que não conheciam, e que o Senhor não lhes tinha indicado.”” (Dt 29, 15-17; 24-25)

Abordando Deuteronômio desta forma completa, assim como os outros textos acima, novamente fica claro que quando Deus adverte seu povo, proíbe fazer imagem de ídolo, ou seja, de falsos deuses. Não há outra forma de interpretar tais textos bíblicos, pois como já foi dito, mesmo que supostamente tenha sido um preceito temporário proibindo qualquer tipo de imagem, pelo perigo de idolatria que ameaçava Israel, de forma alguma os textos acima estão nos proibindo atualmente de fazer o devido uso de imagens sacras, que sempre foi feito em todos os séculos da Igreja, pois se interpretarmos a Bíblia ao pé da letra, não poderíamos fazer imagem alguma de nada: “Não farás para ti escultura, nem figura alguma“. Nem mesmo os próprios protestantes que deturpam tais versículos das escrituras estariam seguindo tais textos da forma que interpretam. Logo, não temos nenhum registro de proibição da confecção de imagens para os nossos dias, em nenhum versículo sequer, nem no Antigo e nem no Novo Testamento, nem por Jesus, nem pelos apóstolos, e nem pelos anjos.

A verdade é que quando a imagem é colocada no lugar de Deus como um ídolo (em grego, εἴδωλον, eidolon), um falso deus, ela é abominável, pois há a intenção de adoração no coração daquele que presta culto, trata-se então do culto de “latria” (origem da palavra idolatria) devido somente a Deus. Porém, quando a imagem é utilizada a serviço de Deus como um ícone (em grego, εἰκών, eikon), ela é edificante, pois há a intenção de veneração no coração daquele que presta o culto, trata-se então do culto de “dulia” devido às criaturas, quem venera uma imagem, venera nela a pessoa representada. A primeira realidade incorre em idolatria e é abominável, já a segunda realidade, é edificante, pois está a serviço de Deus. Sendo assim, não é correto recusar a boa arte na medida em que ela pode ser via de acesso a Deus. Para nós católicos, as imagens sacras são um meio, e não um fim, contudo, que ninguém negue a legitimidade do uso teologicamente fundamentado das mesmas, assim nos ensina a Igreja. Porém, é preciso ser dito que existem outras formas de idolatria muito mais perigosas para o homem de nosso tempo, do que sua atitude perante um “bonequinho” de gesso, como a idolatria dos prazeres carnais; dos desejos sexuais; do amor ao dinheiro; dos bens materiais; idolatria de ideologias; de líderes políticos, de partidos políticos; do vício das drogas; dentre outras formas de idolatria presentes na idade contemporânea, conforme veremos no prosseguir deste estudo. “Não terás outros deuses diante de mim”:

“Mortificai, pois, os vossos membros no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria.” (Cl 3, 5)

“Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração. […] Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza. (Mt 6, 21 .24)

“Porque sabei-o bem: nenhum dissoluto, ou impuro, ou avarento – verdadeiros idólatras! – terá herança no Reino de Cristo e de Deus.” (Ef 5, 5)

Outras Formas de Idolatria

O primeiro mandamento condena o politeísmo. Exige do homem que não acredite em outros deuses além de Deus, que não venere outras divindades além da única. A Sagrada Escritura constantemente nos lembra desta rejeição dos ídolos, ouro e prata, obra das mãos do homem, que têm boca e não falam, têm olhos e não vêem… Estes ídolos vãos tornam vão o homem: “sejam como eles os que os fazem e quantos põem neles a sua confiança” (Sl 115, 4-5.8). Deus, pelo contrário, é o Deus vivo (Js 3, 10), que faz viver e intervém na história.

A idolatria não diz respeito apenas aos falsos cultos do paganismo. Continua a ser uma tentação constante para a fé. Ela consiste em divinizar o que não é Deus. Há idolatria desde o momento em que o homem honra e reverencia uma criatura no lugar de Deus, quer se trate de deuses ou de demônios (por exemplo, o satanismo), do poder, do prazer, da raça, dos antepassados, do Estado, do dinheiro, etc., “Vós não podereis servir a Deus e ao dinheiro”, diz Jesus (Mt 6, 24). Muitos mártires foram mortos por não adorarem falsos deuses, recusando-se mesmo a simularem-lhe o culto. A idolatria recusa o senhorio único de Deus; é, pois, incompatível com a comunhão divina (Cf. Gl 5, 20; Ef 5, 5).

A vida humana unifica-se na adoração do Único. O mandamento de adorar o único Senhor simplifica o homem e salva-o de uma dispersão ilimitada. A idolatria é uma perversão do sentido religioso inato no homem. Idólatra é aquele que “refere a sua indestrutível noção de Deus seja ao que for, que não a Deus” (Orígenes, Contra Celsum 2, 40; SC 132, 378 (PG 11, 861)).

(Catecismo da Igreja Católica. Parágrafos 2112-2114)

A seguir, assista o vídeo do Padre Paulo Ricardo onde ele nos alerta para o perigo da idolatria e nos mostra como venerar os santos e suas imagens é uma forma de glorificar a Deus:

Definitivamente, o primeiro lugar em nossas vidas deve ser do Deus Verdadeiro, por direito natural da existência, do ser das coisas. Como já foi dito, a idolatria pode ser identificada na atitude do homem diante das criaturas e realidades, quem não adora o Deus Verdadeiro, acaba adorando: alguma ideologia; os vícios, o dinheiro; o poder; algum político; os bens materiais; a magia; os prazeres carnais; as superstições; ou até a si mesmo, trata-se de uma grave infidelidade ao Senhor, pois substitui o verdadeiro Deus por um falso.

O mundo contemporâneo tem insistido cada vez mais com suas perniciosas sugestões, nos propondo ocupar o primeiro lugar de nossas vidas com qualquer ídolo infame, na tentativa de ofuscar o motivo real de nossa existência, que não se prende a esta vida, mas mira a vida eterna. Basta olhar ao redor, um mundo agressivamente anticatólico, cheio de seitas para confundir e ofuscar a Verdade, onde as pessoas estão submetidas negativamente a uma contínua pressão cultural e ideológica dos meios de comunicação social.

Concluindo, é preciso rejeitar toda forma de idolatria e mergulhar na Palavra de Deus através dos ensinamentos da Igreja, que com sua autoridade dada por Deus, nos transmite a fé dos apóstolos (cf. Jo 14, 16-18 .26;  16, 12-13) através das Escrituras, da Tradição, e do Magistério: os sucessores dos apóstolos que recebem uma ação especial do Espírito Santo para que a revelação de Deus não se perca na história e se mantenha sempre fiel.

O que a Igreja nos ensina sobre as imagens?

A imagem sagrada, o ícone litúrgico, representa principalmente Cristo. Não pode representar o Deus invisível e incompreensível: foi a Encarnação do Filho de Deus que inaugurou uma nova economia das imagens: “Outrora Deus, que não tem nem corpo nem figura, não podia de modo algum, ser representado por uma imagem. Mas agora, que Ele se fez ver na carne e viveu no meio dos homens, eu posso fazer uma imagem daquilo que vi de Deus […] Contemplamos a glória do Senhor com o rosto descoberto.” (São João Damasceno, doutor da Igreja, †749, De Sacris Imaginibus Oratio 1, 16: PTS 17, 89 e 92 (PG 94, 1245 e 1248))

A iconografia cristã transpõe para a imagem a mensagem evangélica que a Sagrada Escritura transmite pela palavra. Imagem e palavra esclarecem-se mutuamente: “Para dizer brevemente a nossa profissão de fé, nós conservamos todas as tradições da Igreja, escritas ou não, que nos foram transmitidas intactas. Uma delas é a representação pictórica das imagens, que está de acordo com a pregação da história evangélica, acreditando que, de verdade e não só de modo aparente, o Deus Verbo se fez homem, o que é tão útil como proveitoso, pois as coisas que mutuamente se esclarecem têm indubitavelmente uma significação recíproca.” (II Concílio de Niceia, em 787, Terminus: COD p. 135.).

Todos os sinais da celebração litúrgica fazem referência a Cristo: também as imagens sagradas da Mãe de Deus e dos santos. De fato, elas significam Cristo que nelas é glorificado; manifestam “a nuvem de testemunhas” (Heb 12, 1) que continuam a participar na salvação do mundo e às quais estamos unidos, sobretudo na celebração sacramental. Através dos seus ícones, é o homem “à imagem de Deus”, finalmente transfigurado “à sua semelhança”, que se revela à nossa fé – como ainda os anjos, também eles recapitulados em Cristo: “Seguindo a doutrina divinamente inspirada dos nossos santos Padres e a tradição da Igreja Católica, que nós sabemos ser a tradição do Espírito Santo que nela habita, definimos com toda a certeza e cuidado que as veneráveis e santas imagens, bem como as representações da Cruz preciosa e vivificante, pintadas, representadas em mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas Igrejas de Deus, sobre as alfaias e vestes sagradas, nos muros e em quadros, nas casas e nos caminhos: e tanto a imagem de nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, como a de Nossa Senhora, a puríssima e santa Mãe de Deus, a dos santos anjos e de todos os santos e justos.” (II Concílio de Niceia, 787, Definitio de Sacris Imaginibus: DS 600.).

“A beleza e a cor das imagens estimulam a minha oração. É uma festa para os meus olhos, e, tal como o espetáculo do campo, impele o meu coração a dar glória a Deus” (São João Damasceno, doutor da Igreja, †749 De Sacris Imaginibus Oratio 1, 47: PTS 17. 151 (PG 94, 1268).

A contemplação dos sagrados ícones, unida à meditação da Palavra de Deus e ao canto dos hinos litúrgicos, entra na harmonia dos sinais da celebração, para que o mistério celebrado se imprima na memória do coração e se exprima depois na vida nova dos fiéis.

(Catecismo da Igreja Católica. Parágrafos 1159-1162)

As santas imagens, presentes em nossas Igrejas e em nossas casas, destinam-se a despertar e a alimentar a nossa fé no mistério de Cristo. Por meio do ícone de Cristo e de suas obras salvíficas, é a Ele que adoramos. Mediante as santas imagens da santa Mãe de Deus, dos anjos e dos santos, veneramos as pessoas nelas representadas. (Catecismo da Igreja Católica. Parágrafo 1192)

“Não farás para ti nenhuma imagem esculpida…”: Esta imposição divina comportava a interdição de qualquer representação de Deus feita pela mão do homem. O Deuteronômio explica: “Tomai muito cuidado convosco, pois não vistes imagem alguma no dia em que o Senhor vos falou no Horeb do meio do fogo. Portanto, não vos deixeis corromper, fabricando para vós imagem esculpida do quer que seja.” (Dt 4, 15-16). Quem Se revelou a Israel foi o Deus absolutamente transcendente. “Ele é tudo”, mas, ao mesmo tempo, “está acima de todas as suas obras.” (Eclo 43, 27-28). Ele é “a própria fonte de toda a beleza criada.” (Sb 13, 3).

No entanto, já no Antigo Testamento Deus ordenou ou permitiu a instituição de imagens, que conduziriam simbolicamente à salvação pelo Verbo encarnado: por exemplo, a serpente de bronze (Cf. Nm 21, 4-9; Sb 16, 5-14; Jo 3, 14-15), a arca da Aliança e os querubins (Cf. Ex 25, 10-22; 1 Rs 6, 23-28;   7, 23-26).

Com base no mistério do Verbo encarnado, o sétimo Concílio ecumênico, de Niceia (ano de 787) justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: dos de Cristo, e também dos da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Encarnando, o Filho de Deus inaugurou uma nova economia das imagens. O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos. Com efeito, “a honra prestada a uma imagem remonta ao modelo original” (São Basílio Magno, 379, Liber de Spiritu Sancto, 18, 45: SC 17bis. 406 (PG 32, 149)) e “quem venera uma imagem venera nela a pessoa representada” (II Concílio de Niceia, Definitio de Sacris Imaginibus: DS 601; cf. Concílio de Trento, Sess. 25ª, Decretum de Invocatione, Veneratione et Reliquiis Sanctorum, et Sacris Imaginibus: DS 1821-1825; II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum Concilium, 125: AAS 56 (1964) 132: Id., Const. dogm. Lumen Gentium, 67: AAS 57 (1965) 65-66.).

A honra prestada às santas imagens é uma veneração respeitosa, e não uma adoração, que só a Deus se deve: “O culto da religião não se dirige às imagens em si mesmas como realidades, mas olha-as sob o seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não se detém nela, mas orienta-se para a realidade de que ela é imagem.” (São Tomás de Aquino,  doutor da Igreja, †1274, Summa theologiae, 2-2. q. 81, a. 3, ad 3: Ed. Leon. 9, 180.).

O culto das imagens sagradas funda-se no mistério da encarnação do Verbo de Deus. E não é contrário ao primeiro mandamento.

(Catecismo da Igreja Católica. Parágrafos 2129-2132; 2141)

Guias para a oração: […] A escolha de um lugar favorável não é indiferente para a verdade da oração: para a oração pessoal, pode servir um recanto de oração, com a Sagrada Escritura e ícones (imagens) para aí se estar “no segredo diante do Pai” (Cf. Mt 6, 6). Em uma família cristã, este gênero de pequeno oratório favorece a oração em comum; […]

As expressões da oração: […] A meditação é sobretudo uma busca. O espírito procura compreender o porquê e o como da vida cristã, para aderir e corresponder ao que o Senhor lhe pede. Exige uma atenção difícil de disciplinar. Habitualmente, recorre-se à ajuda de um livro e os cristãos não têm falta deles: a Sagrada Escritura, em especial o Evangelho, os santos ícones (as imagens), os textos litúrgicos do dia ou do tempo, os escritos dos Padres espirituais, as obras de espiritualidade, […]

(Catecismo da Igreja Católica. Parágrafos 2691; 2705)

Complementando o conteúdo que o Catecismo da Igreja Católica nos apresenta sobre o uso de imagens, assista o vídeo do Prof. Felipe Aquino a seguir:

Além do Catecismo da Igreja Católica, observemos mais alguns exemplos do claro ensinamento da Igreja sobre a questão das imagens, já no século IV, São Basílio Magno nos esclarecia a questão, repare a data que nos indica a época de cada exortação:

“A veneração prestada à imagem transita para o protótipo.” (São Basílio Magno, 379, Liber de Spiritu Sancto, 18, 45: SC 17bis. 406 (PG 32, 149))

“O desenho mudo sabe falar sobre as paredes das igrejas e ajuda grandemente.” (São Gregório de Nissa, †394, Panegírico de S. Teodoro, PG 94, 1248c).

“Tu não devias quebrar o que foi colocado nas igrejas, não para ser adorado, mas simplesmente venerado. Uma coisa é adorar uma imagem, outra coisa é aprender através dessa imagem, a quem se dirigem as tuas preces. O que as Escrituras representam para os letrados, a imagem o é para os iletrados: são por essas imagens que aprendem o caminho a seguir. A imagem é o livro dos que não sabem ler.” (Papa São Gregório Magno, doutor da Igreja, †604, ao bispo de Marselha, Epístola XI, 13 (PL 77, 1128c)).

“E dizes que nós adoramos pedras, paredes e painéis de madeira. Não é assim como dizes, ó Imperador, mas para nossa memória e nosso estímulo, e para que nossa mente lerda e fraca seja dirigida para o alto por meio daqueles aos quais se referem esses nomes, invocações e imagens, e não como se fossem deuses, como tu dizes – longe de nós! De fato, não pomos nossa esperança nesses. E se é uma imagem do Senhor, dizemos: Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, socorre-nos e salva-nos. Se é da sua santa Mãe, dizemos: Santa mãe de Deus, mãe do Senhor, intercede junto ao teu Filho, nosso verdadeiro Deus, para a salvação das nossas almas! Se é do protomártir, dizemos: Ó santo Estêvão, protomártir, tu que derramaste o sangue pelo Cristo, com tua liberdade de falar, intercede por nós! E para qualquer mártir que venceu o martírio, assim dizemos, elevamos semelhantes orações por meio deles. E não é que chamamos os mártires de deuses, como dizes, ó Imperador.” (Papa Gregório II, 731, Carta ao imperador Leão III, entre 726 e 730, Denzinger, n. 581.)

“Como que prosseguindo sobre a via régia, seguindo a doutrina divinamente inspirada pelos nossos santos Padres e a tradição da Igreja Católica – pois reconhecemos que ela é do Espírito Santo que a habita –, nós definimos com todo o rigor e cuidado que, à semelhança da figura da cruz preciosa e vivificante, assim as venerandas e santas imagens, quer pintadas, quer em mosaico ou em qualquer outro material adequado, devem ser expostas nas santas Igrejas de Deus, sobre os sagrados utensílios e paramentos, sobre as paredes e painéis, nas casas e nas ruas; tanto a imagem do Senhor Deus e Salvador Nosso Jesus Cristo como a da Imaculada Nossa Senhora, a santa Deípara, dos venerandos anjos e de todos os santos e justos. 

De fato, quanto mais os santos são contemplados na imagem que os reproduz, tanto mais os que contemplam as imagens são levados à recordação e ao desejo dos modelos originais e a tributar a elas, beijando-as, respeito e veneração; não, é claro, a verdadeira adoração própria de nossa fé, reservada só à natureza divina, mas como se faz para a representação da cruz preciosa e vivificante, para os santos evangelhos e os outros objetos sagrados, honrando-os com a oferta de incenso e de luzes segundo o piedoso uso dos antigos. Pois “a honra prestada à imagem passa para o modelo original” (São Basílio Magno, 379, Liber de Spiritu Sancto, 18, 45: SC 17bis. 406 (PG 32, 149)) e quem venera a imagem venera a pessoa de quem nela é reproduzido. 

Assim se reforça o ensinamento dos nossos santos Padres, ou seja, a tradição da Igreja universal, que de um extremo ao outro da terra acolheu o Evangelho. Assim nos tornamos seguidores de Paulo que falou em Cristo (cf. 2Cor 2, 17), do divino colégio apostólico e dos santos Padres, mantendo as tradições que temos recebido (cf. 2Ts 2, 15). […] Aqueles, pois, que ousam pensar ou ensinar diversamente, ou, seguindo os ímpios hereges, violar as tradições da Igreja, ou inventar novidades, ou repelir alguma coisa do que foi confiado à Igreja, como o livro do Evangelho, a imagem da cruz, uma imagem pintada ou uma santa relíquia de um mártir; ou que ousam transtornar com astúcia e engodo algo das legítimas tradições da Igreja universal ou usar para fins profanos os vasos sagrados ou os mosteiros santificados, nós decretamos que, se bispos ou clérigos, sejam depostos, se monges ou leigos, sejam excluídos da comunhão. 

(II Concílio de Niceia, sessão 7, 13 de Outubro de 787; Denzinger-Schönmetzer, Enchridion Symbolorum n. 600-603)

Além disso, deve-se conceder a devida honra e veneração às imagens de Cristo, da Virgem Deípara e dos outros santos, a serem tidas e conservadas principalmente nos templos, e isso não por crer que lhes seja inerente alguma divindade ou poder que justifique tal culto, ou porque se deva pedir alguma coisa a essas imagens ou depositar confiança nelas como antigamente faziam os pagãos, que punham sua esperança nos ídolos (cf. Sl 135,15-17), mas porque a honra prestada a elas se refere aos protótipos que representam, de modo que, por meio das imagens que beijamos e diante das quais descobrimos e prostramos, adoramos a Cristo e veneramos os santos cuja semelhança apresentam. Tudo isso foi sancionado pelos decretos dos Concílios, especialmente o segundo Sínodo de Niceia, contra os iconoclastas. […] Se nestas práticas santas e salutares se tiverem difundido abusos, o santo Sínodo deseja ardentemente eliminá-los, de modo que não sejam erigidas imagens que favoreçam doutrinas errôneas e para as pessoas simples sejam ocasião de algum erro perigoso. […] Na veneração das relíquias e no uso sagrado das imagens afaste-se qualquer superstição, elimine-se toda torpe ganância, evite-se, enfim, toda sensualidade. […] O santo Sínodo ordena a todos os bispos e aos demais que têm o múnus e a responsabilidade de ensinar, que, segundo o uso da Igreja Católica e Apostólica recebido desde os primeiros tempos da religião cristã, e segundo o consenso dos santos Padres e os decretos dos sagrados Concílios, instruam diligentemente os fiéis: […] a honra devida às relíquias e o uso legítimo de imagens,” (Concílio de Trento, Decreto sobre a invocação, a veneração e as relíquias dos santos e sobre as imagens sagradas, 3  de Dezembro de 1563)

“Eis um meio que vos poderá ajudar… Cuidai de ter uma imagem ou uma pintura de Nosso Senhor que esteja de acordo com o vosso gosto. Não vos contenteis com trazê-las sobre o vosso coração sem jamais a olhar, mas servi-vos da mesma para vos entreterdes muitas vezes com Ele.” (Santa Teresa de Ávila, doutora da Igreja, †1582, Caminho de Perfeição, cap. 43, 1).

“A arte sacra e seus estilos – Entre as mais nobres atividades do espírito humano contam-se com todo o direito as belas-artes, principalmente a arte religiosa e a sua melhor expressão, a arte sacra. Por sua própria natureza estão relacionados com a infinita beleza de Deus a ser expressa de certa forma pelas obras humanas. Tanto mais podem dedicar-se a Deus, a seu louvor e a exaltação de sua glória, quanto mais distantes estiverem de todo propósito que não seja o de contribuir poderosamente na sincera conversão dos corações humanos a Deus.

Por isso a Santa Mãe Igreja sempre foi amiga das belas artes. Procurou continuamente o seu nobre ministério e instruiu os artífices, principalmente para que os objetos pertencentes ao culto divino fossem dignos, decentes e belos, sinais e símbolos das coisas do alto. Até a Igreja se considerou, com razão, juiz sobre elas, julgando entre as obras de arte quais convinham a fé, a piedade, as leis religiosamente estabelecidas e quais eram consentâneas ao uso sagrado. Com especial zelo a Igreja cuidou que as sagradas alfaias servissem digna e belamente ao decoro do culto, admitindo aquelas mudanças ou na matéria ou na forma, ou na ornamentação que o progresso da técnica da arte trouxe no decorrer dos tempos.

Por isso acerca destas coisas os Padres acharam por bem estabelecer o seguinte: A Igreja nunca considerou seu nenhum estilo de arte, mas conforme a índole dos povos e as condições e necessidades dos vários Ritos admitiu as particularidades de cada época, criando no curso dos séculos um tesouro artístico digno de ser cuidadosamente conservado. Também em nossos dias e em todos os povos e regiões a arte de livre exercício na Igreja, contanto que, com a devida reverência e honra, sirva aos sagrados templos e as cerimonias sacras: de tal sorte que os grandes homens cantaram a fé católica nos séculos passados. Cuidem os Ordinários que, promovendo e incentivando a arte verdadeiramente sacra, visem antes a nobre beleza que a mera suntuosidade. O que se há de entender também das vestes sacras e dos ornamentos. […]

Promoção da arte e formação dos artistas – Os Bispos, por si ou por sacerdotes idôneos dotados de competência e amor a arte, interessem-se pelos artistas, para imbuí-los do espírito da Arte Sacra e da Sagrada Liturgia. Além disso, recomenda-se que, naquelas regiões onde parecer conveniente, se instituam Escolas ou Academias de Arte Sacra para a formação dos artistas.

Os artistas todos, que, levados por seu gênio, querem servir na Santa Igreja a glória de Deus, sempre se lembrem de que se trata de certa forma da sagrada imitação de Deus Criador, e que suas obras se destinam ao culto católico, a edificação dos fiéis, bem como a piedade e a instrução religiosa deles. […]

Os Clérigos, enquanto estudam Filosofia e Teologia, sejam também instruídos na história da Arte Sacra e de sua evolução, bem como acerca dos sãos princípios por que se devem reger as obras de arte de tal forma que apreciam e conservem os veneráveis monumentos da Igreja e possam orientar os artistas na produção de suas obras”

(Concílio Vaticano II, Sacrosanctum Concilium, Capítulo VII, 4 de Dezembro de 1963 / Tradução português do Brasil no livro: “O Culto dos Santos, Imagens e Relíquias”, Prof. Felipe Aquino).

Como vimos, a Igreja sempre reconheceu o valor pedagógico e psicológico das imagens como um auxílio para a vida de oração, os concílios ecumênicos sempre aprovaram o devido uso das imagens nas igrejas, e os santos em todas as épocas valorizaram as imagens sacras. Os católicos adoram somente o Deus Verdadeiro, e assim sempre nos ensinou a Igreja.

Concluindo o assunto de estudo, ouça a seguir um áudio sobre as imagens e a idolatria perante o primeiro mandamento Amar Deus sobre todas as coisas:

Finalizando este capítulo sobre as questões das imagens, ouça o áudio a seguir onde o Prof. Felipe Aquino aborda a importância das imagens sacras na liturgia católica:

Referências: Catecismo da Igreja Católica (Edição Típica Vaticana) / Vatican.va / Catacombe.Roma.it / Cléofas – Prof. Felipe Aquino / Piac.it / Apologistas Católicos / Catacombeditalia.va / VaticanNews / Veritatis Splendor / Canção Nova / Paraclitus / Aleteia / Dom Estevão Bettencourt, OSB na Revista “Pergunte e Responderemos” / “Cristianismo e Imagem no Império Bizantino, Séculos VIII e IX (2014)” – Caroline Coelho Fernandes / Thiago Surian – Cristão Luterano / Padre Paulo Ricardo.

Textos adaptados por Católico Responde.

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